As “regras da estrada” são apenas dedos apontando para o desconhecido da própria vida, os campos inexplorados do Eu. Assim, como sempre: “Não se pode trilhar a Senda, até que se tenha tornado a própria Senda”, como nos diz A Voz do Silêncio. É um paradoxo, entretanto uma verdade mística, que leva o coração a um conhecimento que não sabíamos que possuíamos.
[...] Como todos os psicólogos junguianos apontaram, o primeiro estágio do despertar da consciência de sua condição primeva de inconsciência, está na percepção de que a escolha é possível. Diz um provérbio: “O homem foi feito por causa da escolha”. Todos os grandes mitos representam o início da vida como uma separação de um estado paradisíaco de união, do não conhecimento (ou avidya, que é uma condição de não-percepção, traduzida por ‘ignorância’). Por vezes somos como aquela criança que escreveu uma carta para Deus: “Por favor, Deus”, a criança perguntou, “como é morrer? Eu não quero fazer. Eu quero apenas saber.” E o nosso texto nos lembra que apenas uma ‘olhadela’ para a vida interior, produz suas consequências; uma decisão deve ser tomada. Uma vez que sabemos, conhecemos, não podemos “desconhecer”.
Um preço é sempre exato, qualquer que seja a nossa decisão. Se escolhermos ir adiante, provar do fruto que colhemos da árvore do conhecimento, ou colocá-lo de lado, existe a consequência de nossa escolha inicial para ser ajustada.
[...] Antes que os Olhos Possam Ver...
Seguindo a ordem dada no início das regras de Luz no Caminho (1), somos primeiramente advertidos, “Antes que os olhos possam ver devem ser incapazes de lágrimas”. O olho tem sido sempre símbolo da percepção mental ou discernimento.
Na forma do plural, “olhos”, é um símbolo da mente, ou percepção mental, da faculdade de ver para cima e para baixo, ou o que tradicionalmente é chamado na literatura teosófica de mente superior e mente inferior. Os dois olhos representam o que psicologicamente é conhecido como o “eixo ego-Self” ou, para usar uma terminologia teosófica, a polaridade personalidade-individualidade. São centros de consciência pessoal e transpessoal que devem ser trazidos ao foco (assim como os dois olhos físicos devem agir no sentido de uma visão adequada) para se ter uma percepção clara, sincronizada, e harmoniosa. Não podemos ver “em dobro”, seja física ou psicologicamente, se vamos assumir honestamente a jornada espiritual.
A função de pensar deve ser claramente diferenciada se for para servir a um único propósito. Psicologicamente, significa que não é para ser contaminada por qualquer sentimentalidade (lágrimas) que possa distorcer sua finalidade. Para sincronizar as funções da percepção mental (ou cognição) de ver para cima e para baixo devemos remover todos os elementos obscurecedores. Geralmente nossa percepção de pessoas e situações é colorida por nossas reações emocionais, nossos preconceitos, experiências passadas e assim por diante. Pensamos estar vendo a situação de maneira clara, analisando-a objetivamente, do mesmo modo que pensamos estar sendo mais objetivos em relação às pessoas a quem estamos associados. Todavia, quase sempre descobrimos que estamos sendo consciente ou inconscientemente influenciados por algo que nos foi dito, por alguém, por nossas experiências passadas com essas pessoas, ou com outros indivíduos externamente semelhantes a elas ou por acontecimentos e condições anteriores.
Existe também o fenômeno psicológico de projeção: nós associamos aos outros nossa própria e interna “sombra”, o lado escuro de nossa personalidade, nossas fraquezas e inadequações, nossas próprias avaliações de julgamento baseadas numa compreensão incompleta de nós mesmos.
Todas essas distorções da percepção genuína podem ser simbolizadas pelas “lágrimas”. A espada da mente separa a aparência da Realidade quando está afiada e pronta para ser utilizada de maneira adequada. Para tal “visão” devemos nos tornar “incapazes de lágrimas”, que não significa não ter simpatia ou compaixão, mas, entretanto permanecer imóvel internamente, com uma mente que não pode ser movida por repentinos gostos do desejo, paixão, medo ou dúvida.
Como diz o Bhagavad Gita (5.7): “Aquele que, vivendo entregue ao yoga é puro de coração, vence a si mesmo, refreia seus sentidos e identifica seu Eu com o de todas as criaturas, e mesmo que execute uma ação não se prende a ela”.
Tal ação é ver realmente a verdadeira percepção. Gita (2.58): “Quando, assim como a tartaruga cautelosa recolhe seus membros em sua carapaça, o homem recolhe seus sentidos dos objetos sensíveis, então ele está firme no supremo conhecimento.”
(1) "Luz no Caminho" é um livro de regras, direcionando as ações que devem ser assumidas por aqueles que desejam entrar no Caminho, assumindo o que no cristianismo é dito ser “a medida da estatura da plenitude do Cristo”. É precisamente porque a ação é buscada pelo aspirante que devemos compreender, pelo menos de alguma maneira, a lei universal do karma, uma lei inerente à própria natureza da existência.
Estudo atribuído a Joy Mills
Fonte: Luz no Caminho - Entrando no Caminho Sagrado
(Não encontradas outras referências)
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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