quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

A VIDA TEM UM PROPÓSITO


O pilar fundamental do Judaísmo é a convicção de que a vida tem um propósito. É claro que isto também se aplica às principais religiões do mundo, mas no caso do Judaísmo é o eixo central. Caso possamos afirmar que o Judaísmo tem um ensinamento central, seria que a existência humana tem um propósito. O universo inteiro foi criado por uma razão, e de alguma forma o ser humano participa disso (Zohar Hadash 70d).

Contudo, meramente afirmar que o universo existe para um propósito não é suficiente. O Judaísmo vai um passo além e afirma que tanto os seres humanos como o universo tem um propósito porque foi criado por um Ser capaz de ter um propósito. Chamamos esse Ser de Deus. A verdade é que não temos a capacidade de compreender o que é Deus. E assim como não podemos entender o que Ele é, não podemos entender Suas razões. Não há nada que podemos dizer sobre o próprio Deus; só podemos afirmar que existe.

Contudo, podemos falar sobre o relacionamento que Ele tem com o Seu mundo. Podemos tentar compreender o mundo e perguntar por que ele existe. Podemos refletir e descobrir o que o próprio Deus nos ensinou sobre o propósito da criação.

Uma das ideias que podemos afirmar sobre o Criador é que Ele é bom. Mas não afirmamos apenas que Ele é bom, mas o que Ele define o que é o Bem. Qualquer ato de Deus contém o Bem em seu estado mais puro e infinito. Bondade e amor de Deus são duas das qualidades mais básicas que podemos compreender, e ambos agem juntos para cumprir o propósito que Ele tem para o mundo. É sobre isto que o salmista canta: “Deus é bom para todos, o seu amor é sobre todos”. (Tehilim 145,9)

Deus não precisava criar o mundo. Ele é a perfeição absoluta e, portanto, consequentemente, ele não tem necessidade de absolutamente nada, inclusive da Criação. Até onde possamos compreender, tudo o que podemos dizer é que Deus criou o universo com o propósito de proporcionar o bem ao ser humano. O próprio Deus define Sua Criação como um ato de bondade. É por esta razão que, no final dos primeiros seis dias da Criação, depois de ter criado o ser humano, a Torá diz: “E Deus viu tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom.” (Bereshit 1:35) Aqui somos informados de que a criação do universo foi uma expressão de Sua bondade.

É por esta razão que Deus fez o ser humano por último na ordem da Criação. O mundo inteiro teve que estar preparado para o aparecimento do homem. É por isso que Deus diz através do profeta: “Eu fiz a Terra e criei o homem”. (Yeshayahu 45:12) É o ser humano o destinatário final da bondade divina, e assim cumpre o propósito do Criador em Seu mundo.

O Talmud cita uma parábola sobre isso: "Certa vez, um rei construiu um palácio suntuoso e decorou-o com elegância, recheando-o também com as melhores iguarias e as melhores bebidas. Quando terminou, ele convidou convidados para que viessem desfrutar do palácio dizendo: 'Se não houver convidados, que prazer poderia haver?'"

No mesmo sentido, depois de tudo preparado, o convidado principal - o ser humano - apareceu no universo. (Tikuney Zohar, introdução 6a)



Aryeh Kaplan



Fonte: do livro "Estudo de Kabbalah"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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