quinta-feira, 30 de novembro de 2023

NECESSIDADES HUMANAS


O ser humano estabeleceu como necessidades próprias da sua vida aquelas que dizem respeito aos fenômenos fisiológicos, com toda a sua gama de imposições: alimentação, habitação, agasalho, segurança, reprodução, bem-estar, posição social. Poderemos denominar essas necessidades como imediatas ou inferiores, sob os pontos de vista psicológico e ético-estético.

Inevitavelmente, a conquista dessas necessidades não plenifica integralmente o ser e surgem aqueloutras de caráter superior, que independem dos conteúdos palpáveis imediatos: a beleza, a harmonia, a cultura, a arte, a religião, a entrega espiritual.

Toda a herança antropológica se situa nos automatismos básicos da sobrevivência no corpo, na luta com as demais espécies, na previdência mediante armazenamento de produtos que lhe garantam a continuação da vida, na procriação e defesa dos filhos, da propriedade... Para que pudesse prosseguir em garantia, tornou-se belicoso e desconfiado, desenvolvendo o instinto de conservação, desde o aprimorar do olfato até a percepção intuitiva do perigo.

Desenhadas no seu mundo interior essas necessidades básicas, indispensáveis à vida, entrega-se a uma luta incessante, feita, muitas vezes, de sofrimentos sem termos, por lhe faltarem reflexão e capacidade de identificação do real e do secundário.

Aprisionado no círculo estreito dessas necessidades, mesmo quando intelectualizado, sua escala de valores permanece igual, sem haver sofrido a alteração transformadora de objetivos e conquistas. Todas as suas realizações podem ser resumidas nesses princípios fisiológicos, inferiores, de resultado imediato e significado veloz.

Atormenta-se, quando tem tudo organizado e em excesso, dominado pelo medo de perder, de ser usurpado, e atira-se na volúpia desequilibrada de querer mais, de reunir muito mais, precatando-se (1) contra as chamadas incertezas da sorte e da vida. Se experimenta carência, porque não conseguiu amealhar quanto desejaria, a fim de desfrutar de segurança, aflige-se, por perceber-se desequipado dos recursos que levam à tranquilidade, em terrível engodo de conceituação da vida e das suas metas.

Ninguém pode viver, é certo, sem o mínimo de recursos materiais, uma existência digna, social e equilibrada. Mas, esse mínimo de recursos deveria atender e sustentar outros valores psicológicos, superiores, que situam o ser acima das circunstâncias oscilantes do ter e do deixar de ter.

A grande preocupação deverá ser de referência a como conduzir-se diante dos desafios da sua realidade, não excogitada (2) como essencial para a própria auto identificação, autorrealização integral.

A luta cotidiana produz resultados imediatos, que contribuem para atender as necessidades básicas da existência, mas é indispensável alongar-se na conquista de outras importantes exigências da evolução, que são as de natureza psicológica, que transcendem lugar, situação, posição ou poder.

Enquanto um estômago alimentado propicia reconforto orgânico, uma conversação edificante com um amigo faculta bem-estar moral; uma propriedade rica de peças raras e de alto preço oferece alegria e concede comodidade, mas um momento de meditação enriquece de paz interior inigualável; o apoio de autoridades ou guarda-costas favorece segurança, em muitos casos, entretanto a consciência reta, que resulta de uma conduta nobre, proporciona tranquilidade total; roupas expressivas e variadas ajudam na aparência e agradam, no entanto, harmonia mental e correção de trato irradiam beleza incomum; o frenesi sexual expressa destaque na vida social, todavia, o êxtase de um momento de amor profundo compensa e renova o ser, vitalizando-o; a projeção na comunidade massageia o ego, mas a conquista do Si felicita interiormente...

As necessidades básicas fisiológicas são sempre acompanhadas de novas exigências, porque logo perdem a função.

Aquelas de natureza psicológica superior se desdobram em variantes inumeráveis, que não cessam de proporcionar beleza.

Por isso mesmo, a realidade do ser está além da sua forma, da roupagem em que se apresenta, sendo encontrada nos valores intrínsecos de que é constituído, merecendo todo o contributo de esforço emocional e moral para conseguir identificar-se.

Somente aí a saúde se torna factível, o bem se faz presente e os ideais de enobrecimento da sociedade como da própria criatura se tornam legítimos, de fácil aquisição por todo aquele que se empenha na sua conquista.



Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis




Fonte: do livro "Vida: Desafios e Soluções"
Série psicológica, volume 8, 2013, 12ª ed.
Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador/BA
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


Notas:
1 acautelando-se, prevenindo-se
2 não meditada, não refletida

RAZÕES PARA ESTARMOS NO PLANETA TERRA


A Terra é um centro de aprendizagem ao qual descemos por várias razões, principalmente para saldarmos as dívidas que contraímos nas nossas encarnações anteriores. Em seguida, temos de compreender a situação em que nos encontramos no momento; finalmente, devemos trabalhar para nos aperfeiçoarmos em todos os domínios.

A maior parte dos humanos, que não sabe por que razão se encontra na Terra, limita-se a comer, beber, dormir, divertir-se, brigar... Aqueles que são esclarecidos, pelo contrário, sabem que devem reparar os erros cometidos nas suas vidas precedentes. Depois, procuram compreender porque estão em tal país, em tal família, e o que se espera deles.

Finalmente, esforçam-se por desenvolver todos os germes das qualidades e virtudes que o Criador neles depositou desde sempre. É por isto que uma Escola Iniciática é tão indispensável; não há nada superior ao esclarecimento que ela traz ao discípulo sobre o sentido da sua vida terrestre.



Omraam Mikhaël Aïvanhov




Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

O DOM DA GRAÇA DIVINA


A conversão espiritual está fora do nosso controle. Esta mudança completa de consciência não pode ser alcançada através do nosso esforço, pois a recebemos como um presente da graça divina.

Muitas vezes a jornada espiritual se apresenta de forma linear, silenciando primeiro o corpo e depois a mente, para que possa ser alcançada pela graça do espírito. Contudo, não se trata de etapas progressivas, mas sim de níveis simultâneos que se sobrepõem e se aprofundam. Nós nos movemos através deles, como se estivéssemos em espiral, e eles nos permitem vislumbrá-los enquanto praticamos o silêncio.

(...) é comum que, no início desta jornada espiritual, sintamos uma súbita compreensão profunda, uma lembrança da nossa verdadeira natureza, um vislumbre de uma dimensão maior e um afastamento da preocupação com a realidade superficial. Lembremo-nos que a “Luz” já vive em nós. Já estamos “iluminados”. “Viemos da Luz, do lugar onde a própria Luz teve a sua origem, onde habitou. Nós somos seus filhos” (Evangelho de Tomé, 50). Os primeiros Padres da Igreja chamavam a isto o momento de “conversão” ou “metanoia”, uma mudança de coração e de mente, uma conversão perspicaz que permite que a memória do nosso verdadeiro “eu” se manifeste mais claramente ao longo do tempo.

Isso nos permitirá superar o limiar entre os diferentes níveis de percepção. Quando entramos no nosso ser interior, o nosso Eu, através da meditação, deixamos para trás a nossa inteligência racional, as nossas emoções e as nossas percepções sensoriais e agimos puramente a partir de uma faculdade superior à razão: a nossa inteligência intuitiva. Este é o nosso elo e meio de comunicação com o Divino. O “eu” não é mais afetado pelos acontecimentos externos da nossa vida e está livre para nos ajudar com suas intuições e visões. Esses insights podem chegar até nós após o silêncio da meditação, em sonhos e através de outras maneiras que nosso eu espiritual encontra para nos alcançar.

O impulso para alcançar a “metanoia” é muitas vezes um momento de crise ou um grande evento que ocorre em qualquer fase das nossas vidas em que a realidade aparentemente segura e imutável em que vivemos é subitamente abalada de forma desconcertante. Por exemplo, quando sentimos rejeição por parte de uma pessoa ou grupo, quando enfrentamos o fracasso ou perdemos a autoestima, ou quando perdemos o emprego ou a nossa saúde piora repentinamente. O resultado deste evento pode ser a recusa em aceitar a mudança ou cair num estado de negatividade, desconfiança e desespero.

Pode acontecer também que, ao percebermos que a realidade não é tão imutável como acreditamos, enfrentemos o desafio de olhar para nós mesmos, para o nosso ambiente, para as nossas opiniões e para os nossos valores com outros olhos.

Nesse momento, a cadeia formada por todos os nossos condicionamentos, pensamentos, memórias e emoções é quebrada e assim nos sentimos livres, sem obstáculos, no Aqui e Agora, no momento eterno. Então, por um momento, somos capazes de ver a Realidade como ela é. Vemos o significado desta percepção na experiência de Maria Madalena. Após a crucificação de Jesus, ela se aproxima do túmulo e o encontra vazio. Ela fica perturbada e envolvida por sua própria dor e tristeza. Quando Jesus aparece diante dela, ela fica tão dominada pela dor que não consegue ver a realidade. Ela não reconhece Jesus e acredita que ele é o jardineiro. No momento em que Jesus chama seu nome, sua visão turva da realidade – condicionada por suas emoções – se rompe e ela vê Jesus, ela vê a verdadeira realidade.

Este momento nem sempre é tão dramático. Nossa consciência perceptiva varia muito de uma pessoa para outra e também de um momento para outro. Há pessoas que vivenciaram um momento de “transcendência”, uma consciência de uma realidade diferente, uma fuga da prisão do “ego”, enquanto ouvem uma bela peça musical, leem uma bela poesia ou ficam encantados com uma obra de arte.

Outras pessoas podem nunca ter tido plena consciência destes momentos de insight e, ainda assim, em algum nível de percepção, sempre estiveram “despertas” para a existência de uma realidade superior e, sem saber, estão se tornando mais sintonizadas com esta realidade. É comum que ao iniciarmos a meditação experimentemos uma sensação de paz e alegria que começa a borbulhar dentro de nós. Momentos como estes, quando estamos livres da preocupação consigo mesmo, são dádivas divinas.


Kim Nataraja



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O RETORNO PARA SI MESMO


«Santo Agostinho e o método de atenção a si mesmo» – Fragmento I

"A paz, a felicidade duradoura, a consciência da imortalidade implicam um regresso ao ponto de origem, um encontro com o próprio Criador. Mas este retorno a Deus é antes de tudo um retorno gradual a si mesmo... O distanciamento de Deus leva o homem à 'região da dessemelhança', isto é, ao mundo sujeito aos fatores do espaço-tempo... de modo que quanto mais ávida pelas coisas temporais, mais dessemelhante é a alma...

"O homem coloca-se no reino da dessemelhança quando vive dependente das coisas externas. Na maioria das vezes é por puro desejo de novidade, mera 'luxúria dos olhos' (1 João 2, 16), desejo de experimentar e conhecer, ou seja, deixa-se levar pelo instinto de apropriação das coisas. Assim, ele acredita que as coisas lhe servem, mas é ele quem vive alienado por elas, ou seja, obrigado a sair de si mesmo. Ele assume que a felicidade reside em acumular posses e outros objetos externos, mas 'os homens que desejam o que está fora de si vivem no exílio em relação a si mesmos'.

"O problema é que muitas pessoas esperam obter a felicidade através da posse de riquezas, do gozo de todos os tipos de prazeres etc. Porém, todas essas alegrias não são estáveis, pois vêm e vão, e além disso não são plenas, porque nos movem a desejá-las com maior intensidade. Dessa forma, o homem vive escravizado pelos seus desejos e pela fé que depositou nas percepções que advêm dos sentidos. Na medida em que se questione que tais percepções podem ser errôneas e que distorcem a realidade, dando origem a miragens que entorpecem a alma, o homem estará despertando para a verdadeira liberdade..."


Extraído das pp. 373/4 do livro “História dos métodos de meditação não duais” de Javier Alvarado Planas


El Santo Nombre



Fonte: Blog El Santo Nome
https://elsantonombre.org
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ABANDONO DE SI MESMO


A debilidade de resistências psicológicas, que se convertem em ausência de forças morais, conduz o paciente aos estados mórbidos, quando acometido dos desconfortos da timidez, inibição e angústia, que lhe trabalham os mecanismos da mente, deixando-o à deriva.

Revolta e pessimismo assaltam-no, levando-o a paroxismos (1) de desesperação interior, em cujo processo mais se aflige, entorpecendo os centros do discernimento e mergulhando em fundo poço de desarmonia.

Sem motivação estimuladora para buscar objetivos salutares nos rumos existenciais, auto-abandona-se, descuidando da aparência como efeito do pessimismo que o aturde.

Passa a exigir uma assistência que se não permite, e quando alguém se dispõe a oferecê-la, recusa-a, agredindo ou fugindo para atitudes de autocomiseração, nas quais se compraz.

Porque coleciona azedume, a sua presença faz-se desagradável, carregada de negatividade, com altas doses de censura aos outros ou de auto-reproche (2), evitando-se liberação.

A timidez é couraça forte que aprisiona. O tímido, no entanto, adapta-se, e egoisticamente passa a viver em exílio espontâneo, que lhe não exige luta, assim poupando-se esforços, que são inevitáveis no processo de crescimento e de conquista psicológica madura.

A inibição é tóxico que asfixia, produzindo distúrbios emocionais e físicos, transtornando a sua vítima e empurrando-a para o poço venenoso da alienação. Ali, os tóxicos dos receios injustificados asfixiam-no, produzindo-lhe enfermidades físicas e psíquicas em cujas malhas estorcega (3) em demorada agonia.

A angústia despedaça os sentimentos que se tornam estranhos ao próprio paciente, que perde o contato com a realidade objetiva dos acontecimentos e das pessoas, para somente concentrar-se no próprio drama, isolando-o de qualquer convivência saudável, e quando não se pode evadir do meio social, permanece estranho aos demais, em cruel autopiedade, formulando considerações comparativas entre o que experimenta e o que as demais pessoas demonstram. Parece que somente ele é portador de desafios, e que as aflições se fixaram exclusivamente na sua casa mental.

Não cede espaço para a análise dos problemas que a todos assoberbam, e que podem ser examinados de forma saudável, transformando-se em fonte de permanentes estímulos para o desenvolvimento dos recursos de que é portador.

São esses distúrbios emocionais algozes implacáveis, que merecem combate sistemático e diluição contínua, não se lhes permitindo fixação interior. A ocorrência de qualquer um deles é perfeitamente normal no comportamento humano, servindo para fortalecimento dos valores íntimos e da própria saúde emocional.

Inevitável, para a sua erradicação, a busca de recursos preciosos, alguns dos quais, os mais importantes, se encontram no próprio enfermo, como, por exemplos, a auto-estima, a necessidade do autoconhecimento, e do positivo relacionamento no grupo social, que são negados pelos distúrbios castradores.

A auto-estima, na vida humana, é de relevantes resultados, em razão de produzir fenômenos fisiológicos, que decorrem dos estímulos emocionais sobre os neurônios cerebrais, que então produzem enzimas que concorrem para o bem-estar e a alegria do ser.

Da mesma forma que as ideias esdrúxulas, carregadas de altas doses de desesperança e negação, somatizam-se, dando surgimento a enfermidades variadas, as contribuições mentais idealistas, forjadas pela auto-estima, confiança, coragem para a luta produzem estados de empatia, de júbilo e de saúde.

Quando, porém, o paciente resolve absorver os transtornos que o assaltam, demorando-se na reflexão em torno deles, agindo sob os vapores venenosos que expelem, refugiando-se na autocompaixão e na rebeldia, voltando-se contra o grupo social que o pode auxiliar, não apenas amplia os efeitos perniciosos da conduta, como também bloqueia os recursos de auxílio para a libertação, abrindo campo para a instalação de inumeráveis enfermidades alérgicas, de dermatoses delicadas, de problemas digestivos e respiratórios, com profundos reflexos nervosos destrambelhados ou doenças mais graves...

O indivíduo é, com muita propriedade, a mente que o direciona. As ocorrências traumatizantes, por isso mesmo, ao invés de aceitas pelo Self, devem ser liberadas, mediante catarses próprias ou através da transmudação dos conteúdos, de forma que em substituição aos pensamentos destrutivos, perversos, negativos, passem a ser cultivados aqueles que devem reger as realizações edificantes, interagindo na conduta que se alterará para melhor, direcionada para a saúde.

A impossibilidade de realizá-lo a sós não se torna empecilho para que seja buscada a solução, através do psicoterapeuta preparado, para auxiliar no comportamento e na transformação dos modelos mentais perturbadores. Ademais, porque originados no cerne do ser espiritual, que se é, a orientação competente que se deriva da evangelho terapia, face à contribuição do amor e do esclarecimento da causalidade dos problemas, não pode ser postergada ou levada em desconsideração.

Ressumando (4) os miasmas dos erros pretéritos e diante de novas possibilidades que se apresentam auspiciosas, as dificuldades iniciais são a cortina de fumaça que oculta os horizontes claros do êxito, que aguardam ser conquistados após a diluição do impedimento.

Desse modo, o esforço para o autoconhecimento se transforma em necessidade terapêutica, porquanto o aprofundamento sereno na busca de respostas para os conflitos da personalidade, culminarão apresentando a cada um informações que não haviam sido detectadas lucidamente, e que passarão a contribuir de forma valiosa na conduta.

Quando o indivíduo se comporta através de sucessivas reações sem a oportunidade de atitudes conscientes, que são resultados da ponderação, do amadurecimento, da análise em torno do fato, mais se lhe agravam os efeitos perniciosos de tal atitude. É perfeitamente normal uma reação que decorre da força do instinto de preservação da vida, resguardando-se, automaticamente, de tudo aquilo que venha a constituir sofrimento ou desagrado. No entanto, reações em cadeia, sem intervalos para a lógica nem a meditação em volta do que está sucedendo, tornam-se morbidez de conduta, expressando o desequilíbrio instalado no campo emocional.

Ainda assim, é perfeitamente válido o esforço para a alteração do quadro, buscando entender-se, interrogando-se sobre o porquê de tal procedimento e tentando honestamente mudar dessa direção para outra mais lúcida e racional.

A convivência social, mesmo que se apresentando desagradável para o paciente, irá contribuir para que descubra valores em outras pessoas que, distanciadas, são tidas como antipáticas, inconvenientes ou desinteressantes. Nesse meio, perceberá que todas experimentam as mesmas pressões e sofrem semelhantes problemas, sendo que algumas sabem como administrá-los, dissimulá-los, superá-los, vivendo em equilíbrio, sem escorregarem pela rampa da autopunição, da autocompaixão, do auto-amesquinhamento.

O abandono de si mesmo é forma de punir a incapacidade de lutar, cilício voluntário para a autodestruição, recurso para punir os familiares ou a sociedade na qual se encontra. Sentindo-se impossibilitado de competir, negando-se a lutar, recalcando os conflitos na raiva e na mágoa, castiga-se, para desforçar-se de todos aqueles que se lhe apresentam na mente atormentada como responsáveis pelo seu estado.

Enquanto o indivíduo não se resolva por crescer e ser feliz, esses algozes implacáveis e mais outros atormenta-lo-ão, ferindo-o, cada vez mais, e dominando a sociedade que passará a ser-lhe vítima.


Divaldo Pereira Franco / Joana de Ângelis



Fonte: do livro "Amor, Imbatível Amor"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal


Notas:
1 - auge, pico, ápice
2 - reprimenda, advertência, reprovação, crítica
3 - magoar, pisar, estimular
4 - verter, gotejar, repassar, revelar, manifestar,destilar

terça-feira, 28 de novembro de 2023

O MANTRA PROGRIDE IMPERCEPTIVELMENTE ATRAVÉS DO ESPAÇO DE QUIETUDE


O mantra¹ deve ser pronunciado continuamente, independentemente do que estejamos sentindo: “Em tempos de guerra e em tempos de paz”, conforme indicado no livro “A Nuvem do Não Saber”. “Em tempos de prosperidade e em tempos de adversidade”, como destaca Juan Casiano. E “do início ao fim de cada meditação”, como aconselhou John Main.

Com a prática diária, o mantra introduz suas raízes em nosso ser, cada vez mais profundas, facilitando a harmonia entre a consciência e o inconsciente. Sutil e gradualmente desce da cabeça ao coração. A princípio pronunciamos o mantra, mas com o tempo ele começa a ressoar dentro de nós e depois o ouvimos com menos esforço e maior atenção.

Naturalmente, haverá dias em que teremos mais dificuldades e os tempos de meditação ficarão tão áridos que parecerá impossível pronunciar o mantra. Procuramos qualquer desculpa para não sentar e meditar. E então o mantra é levado pelas ondas do pensamento e da emoção. Mas se, pelo contrário, perseverarmos ou recomeçarmos, como na parábola da semente que cresce nas trevas das entranhas da terra, o mantra nos guiará com fidelidade e maior profundidade. E com esta profundidade vem a clareza, a quietude, o autoconhecimento, o grande dom da compaixão e da quietude profunda, necessária para alcançar a atenção plena e a transcendência. O mantra progride imperceptivelmente através do espaço de quietude, entre as ondas do pensamento e da vida interior.

Eventualmente, isso nos leva à verdadeira pobreza, onde aprendemos a simplesmente ser. Experimentar esta bela realidade de vez em quando nos permite suportar muitos contratempos e decepções ao longo do caminho. Haverá momentos de derrota. Mas mesmo quando parecemos estar retrocedendo, o crescimento acontece se houver fé. Na noite mais escura, uma luz invisível ainda brilha.

Desenvolve-se uma atitude de não possessividade e confiança que substitui sentimentos de ganância e medo. E isso nos leva a experimentar uma paz cada vez mais inquebrantável. Sob todas as turbulências das nossas vidas, esta paz flui para o verdadeiro conhecimento e para o crescimento interior que ele acarreta.

Trecho do livro “JESUS: THE INNER TEACHER” de Laurence Freeman (Nova York. Continuum, 2000), pp. 226-227.


Transcrição de Carla Cooper


Notas:

Para mais detalhes ver:
* CAMINHO DO MANTRA: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2022/09/mantra-duas-maneiras-de-ser-particula-e.html
* JOHN MAIN E A MEDITAÇÃO CRISTÃ: https://coletaneas-espirituais.blogspot.com/2020/05/john-main-e-meditacao-crista.html

(1) Mantra, aqui neste contexto, é uma ou mais palavras, numa determinada língua, que tenha algum significado na condução da nossa meditação. (Nota deste blog)


Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

TUDO DEPENDE DA MANEIRA DE COMO REALIZAR O TRABALHO


Fazei o vosso trabalho espiritual e deixai que esse trabalho abone a vosso favor junto das outras pessoas. O vosso trabalho é que falará por vós. É preciso continuar até ao fim, morrer de pé, mas nunca renunciar ao trabalho. Não é desonroso cair, a única honra consiste em morrer fiel ao seu posto, tal como um comandante no seu navio. Já que se terá de morrer um dia, é preferível morrer como deve ser! É necessário sacrificar tudo ao trabalho, e o trabalho dar-vos-á o resto; se ele for bem feito, até a glória poderá vir. Eis algo que ainda não foi compreendido. Todos os que procuram unicamente o lucro ou a glória, sem se preocuparem com a maneira como realizarão o seu trabalho, encontrarão decepções. Só tereis a verdadeira riqueza e a verdadeira glória se fizerdes honestamente o vosso trabalho com a luz.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

MÊS SOLAR DE SAGITÁRIO - OS SENHORES DA MENTE


O dia 3 de janeiro e o mês solar de dezembro, 23 de novembro a 22 de dezembro, são dedicados à Hierarquia de Sagitário, os Senhores da Mente.

O padrão cósmico induzido por estes Seres Gloriosos é o da Terra transformada em um vasto relicário irradiante, graças à Aura Dourada da suprema Luz do Mundo.

Apóstolo: o Discípulo correlacionado com Sagitário é Filipe. Antes de ter encontrado o Senhor, não fazia a menor ideia do que poderia significar em sua vida, possuir uma mente cosmicamente espiritualizada ou Cristificada. Este apóstolo era essencialmente um mentalista. Porém, depois que a Luz de Cristo resplandeceu sobre ele, tornou-se digno de figurar entre os Doze Imortais.

Centro Corporal: Sagitário opera por meio do Plexo Sacro, ligação de fibras nervosas localizada na base da medula espinhal (região do sacro). A medula espinhal, que conecta o plexo sagrado ao cérebro, também participa na Senda do Discipulado. Quando um aspirante vive uma vida essencialmente motivada por um anelo puro e santo, o fogo espiritual medular enrolado no interior do plexo sagrado desperta e sobe através da medula espinhal até os dois órgãos espirituais localizados na cabeça, a glândula pineal (ou epífise) e a glândula pituitária (ou hipófise). É por este processo que a mente do homem se Cristifica, razão pela qual Sagitário é sempre simbolizado pela Luz, a Luz da mente espiritualizada.

Pensamento Semente: quando devidamente assimiladas, e transmutadas em valores anímicos, as experiências da vida cotidiana tornam-se verdadeiros degraus que permitem a ascensão do aspirante, harmonizando-o com a Luz Divina Universal. A Luz que ilumina todo e qualquer ser humano que venha ao mundo. Foi para esses aspirantes que o Mestre falou quando afirmou: "Vós sois a luz do mundo." (Mateus 5:14)

Pensamento Semente Bíblico: "Vós sois a luz do mundo." Usado para meditação no dia 3 de janeiro e durante o mês solar de dezembro (23 de novembro a 22 de dezembro), quando a Hierarquia de Sagitário inunda a Terra com os seus ritmos vibratórios. Inexprimíveis bênçãos aguardam aqueles que meditarem na promessa que essa passagem encerra.

Nas minhas singelas conversas com amigos, colegas e vizinhos, quantas vezes sinto, dentro de cada um de nós, algo de mais elevado transpassar por estas ações triviais. O Divino em mim acena diretamente para o Divino neles... Os homens descem para se encontrar. (Emerson: The Over-Soul)


Corinne Aline



Fonte: Revista "Fiat Lux", artigo "Os 12 Dias Santos", ano 2017, nº 1, nov./dez.
Grupo de Estudos Fraternidade Rosacruz Fiat Lux
http://frcfiatlux.org
Amadora, Portugal
Fonte da Gravura: da Revista supra citada

sábado, 25 de novembro de 2023

MEDITAÇÃO E UNIFICAÇÃO NO SUFISMO E CRISTIANISMO


O Método do Sufismo

Os escritos dos Sufis estão muito velados por fantasias e simbolismos e têm um sentido de dualidade mais forte do que talvez em qualquer outro sistema religioso esotérico, à exceção dos escritos místicos Cristãos. Mas aí ressalta também a mesma expressão da verdade e o mesmo método fundamental. É o que extratos do vetusto Tratado Persa sobre o Sufismo nos demonstra. É interessante notar que os escritos mais extensos e que apresentam a maior utilidade tiveram origem naqueles que são os Conhecedores, capazes de contar as suas experiências da divindade de tal modo que podem ensinar e delinear, assim como declarar e afirmar.

"O primeiro passo para a unificação é o aniquilamento da separação porque a separação é a declaração de que se está separado das imperfeições, enquanto que a unificação é a declaração da unidade de uma coisa... Por conseguinte, o primeiro passo para a unificação é negar que Deus tenha um associado e pôr de lado tal associação...

"Temos cinco princípios de unificação: o afastamento da fenomenalidade, a afirmação da eternidade, o abandono dos laços familiares, a separação dos irmãos e o esquecimento do que é conhecido e desconhecido.

"O afastamento da fenomenalidade consiste em negar que os fenômenos tenham conexão com a unificação ou que lhes seja possível alcançar a Sua santa essência; a afirmação da eternidade consiste na convicção de que Deus existiu sempre... ; o abandono dos laços familiares significa, para o noviço, a separação dos prazeres habituais da alma inferior e das formas deste mundo e, para o adepto, a separação das posições sublimes e dos estados gloriosos e dos milagres exaltados; a separação dos irmãos significa o afastar-se da sociedade da espécie humana e o dirigir-se para a sociedade de Deus, dado que qualquer pensamento que não seja o de Deus é um véu e uma imperfeição e, quanto mais os pensamentos de um homem estão associados a outrem que não Deus, mais Deus lhe está velado, porque está universalmente reconhecido que a unificação é a concentração dos pensamentos, enquanto que estar satisfeito com outro que não Deus é um sinal de dispersão do pensamento...” (Nicholson, Reynold A., The Kashf AI-Mahjúb, pp.281-2)

Encontramos ainda estas palavras:

"Um dos Shaykhs diz: são necessárias quatro coisas àquele que ora: a aniquilação da alma inferior, a perda dos poderes naturais, a pureza do coração interno e a perfeita contemplação. A aniquilação da alma inferior não pode ser alcançada senão pela concentração do pensamento; a perda dos poderes naturais apenas pela afirmação da Majestade Divina, o que implica a destruição de tudo o que é diferente de Deus; e pureza do coração interior unicamente pelo amor; e a perfeita contemplação apenas pela pureza do coração interior." (Nicholson, Reynold A., The Kashf AI·Mahjúb, pp.302-3.

Uma vez ainda, temos a mesma verdade.


O Método do Cristianismo

É naturalmente fácil encontrar grande número de textos que ligam o caminho do Conhecedor Cristão ao do seu irmão do Oriente. Eles testemunham a mesma eficácia do método no qual o intelecto é igualmente empregado até aos limites do seu poder e, depois, todo o esforço é suspenso, até se estabelecer uma nova condição do ser e sobrevir um novo estado de consciência.

Santo Agostinho diz:

"Assim como é inefável, na primeira procissão, donde o Filho sai do Pai, assim também existe qualquer coisa de oculto por detrás da primeira procissão, intelecto e vontade".

Meister Eckhart une-se aos Conhecedores Orientais pelas seguintes palavras:

"O intelecto é o mais forte poder da alma e, com isso, a alma assenhoreia-se do bem divino. O livre arbítrio é o poder de saborear o bem divino que o intelecto lhe faz conhecer. A chispa da alma é a luz do reflexo de Deus, que sempre se volta para observar Deus. O arcano da mente é, por assim dizer, a soma de todo o bem divino, de todos os dons divinos, na essência mais íntima da alma, que é como um poço insondável de bondade divina.

"Os poderes mais inferiores da alma deveriam estar consagrados aos poderes superiores da mesma, e estes a Deus; os seus sentidos externos aos internos e estes à razão, o pensamento à intuição, e todos eles à unidade afim de que a alma possa estar só sem que coisa alguma flua para ela que não seja pura divindade, refluindo neste momento para dentro de si mesma.

"Quando a mente de um homem perdeu o contato com todas as coisas, então, e somente então, entra em contate com Deus.

"No influxo desta graça aparece de imediato aquela luz da mente para a qual Deus envia um raio de Seu Esplendor sem mácula. Nesta poderosa luz um mortal está tão acima dos seus semelhantes quanto um homem vivo está acima de sua sombra projetada na parede.

"O homem da alma, transcendendo o seu modo angélico e guiado pelo intelecto, abre caminho até a fonte de onde a alma brotou. O intelecto é deixado de lado com todas as coisas que têm um nome. Assim a alma é absorvida na pura unidade.” (Pfeiffer, Franz, Meister Eckhart, pp.338, 144, 101, 66)

Assim, todas as grandes escolas de meditação intelectual (privadas, nos últimos estágios, de emoções e de sentimento) conduzem ao mesmo ponto. No ponto de vista do Budismo, do Hinduísmo, do Sufismo e do Cristianismo, o fim é fundamentalmente o mesmo: a Unificação com a Divindade; há a mesma transcendência dos sentidos, a mesma concentração da mente no seu mais alto ponto para conduzir o aspirante ao seu objetivo; a mesma entrada no estado de contemplação da Realidade, a mesma fusão em Deus e a consciência da identidade com Deus e a mesma subsequente Iluminação.

Todo sentimento de separatividade desapareceu. A Unidade com o Universo, a Identidade com o Todo conscientizado, a percepção consciente do Eu e a assimilação em plena consciência desperta, quer com a Natureza exterior, quer com a interior - tal é a meta definida do investigador do conhecimento.

O eu, o não-eu e a relação entre ambos são conhecidos como um fato, sem diferenciação. Deus, o Pai, Deus, o Filho e Deus, o Espírito-Santo, são conscientizados como trabalhando harmonicamente em conjunto com uma Identidade - os Três em Um e o Um em Três. Este é o objetivo de todas as escolas onde o místico transcende o sentimento e, em última análise, até o pensamento, para ficar unido ao Todo. Entretanto, a individualidade persiste na consciência, mas está tão identificada com o Todo que desaparece o sentido da separatividade.

Nada mais subsiste senão a Unidade conscientizada.



Alice A. Bailey / Tibetano / Djwhal Khul




Fonte: do livro "Do Intelecto à Intuição". pp. 147-9, 1ª ed., 1984
Tradução da Fundação Cultural Avatar, Niterói/RJ
Fundação Educacional e Editorial Universalista - FEEU, Porto Alegre/RS
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O BEM E O MAL: REALIDADE OU ILUSÃO ?


A meditação afeta a maneira como vivenciamos o bem e o mal mais como realidade e ilusão?

Fr. John: Acho que sim. Acho que o ponto-chave sobre a realidade e a ilusão é que a ilusão é ilusão porque não é real na perspectiva divina. É claro que pode parecer muito real da sua perspectiva. Se alguém prega uma peça ruim em você, você percebe isso como algo muito real. Digamos que alguém roube sua carteira quando você vai às compras. No momento em que você descobre isso, você vê isso como algo muito real. E a pessoa que roubou de você também parece real. Ele agora tem US$ 50 a mais do que tinha. Mas na perspectiva divina, o momento de glória deles acabou, assim como o seu momento de dor quando você descobre que agora tem US$ 50 a menos.

Você se depara com a desagradável verdade de que alguém com certa tendência para o mal lhe causou danos que você não provocou. Se você tiver que lidar com esse mal, deve evitar julgar tudo a partir de uma perspectiva egocêntrica. Só então você poderá perdoar. Tudo isso, de ambos os pontos de vista, é realidade. É a realidade total vista da perspectiva divina na qual está contido cada ponto de vista. Penso que esta é a diferença entre ilusão e realidade; que a realidade tem um significado eterno e inclusivo; a ilusão é uma rápida olhada na panela no fogão. A meditação nos liberta da tendência de acreditar que nosso ponto de vista é único e verdadeiro. Ele faz isso ensinando-nos a renunciar inteiramente aos nossos pensamentos e ideias, em favor da realidade inclusiva de Deus.

Este é um conceito do Oriente?: “Bem, é uma ilusão, meu amigo, que você sofra.” É uma ilusão que existam milhões de pessoas que não têm nada para comer, mas que ficarão satisfeitas mais tarde. Até que ponto podemos falar dessas realidades como ilusões?

Fr. John: Claro, é totalmente real enquanto permanecermos numa posição materialista. Mas se você olhar para isso e se perguntar qual é o significado disso, então você começará a entender o que é real e o que é ilusão. Acho que o problema é que fomos educados para viver numa atmosfera puramente materialista e se alguém roubar a sua carteira, ou mesmo a sua vida, isso parece ser a realidade última.

Se atribuirmos a realidade última à mudança da experiência humana, é muito difícil acreditar que só Deus é real, de modo que todo o resto só é real na medida da nossa participação na realidade.

O mal não pode participar da sua realidade, mas pode participar da limitação. Portanto, podemos abrir nossos corações a Deus com compaixão pelo sofrimento humano. Em outras palavras, a mão que vai atacar age de forma irrealista. A mão que traz conforto atua de forma real, de forma divina. Deus não é indiferente. Deus é bom. Deus é amor.

É difícil compreender através de conceitos, mas isso fica claro na experiência do sofrimento e da compaixão, no bem e no mal. Alguém disse uma vez a W. B. Yeats: “Sr. Yeats, quando leio alguns de seus poemas, não consigo entender o que ele quer dizer. Você poderia me dizer o que eles significam? Yeats respondeu: “Talvez eu possa lhe dizer o que significam, mas o que sei é que são absolutamente reais para mim. O que devo conseguir para vocês através dos meus poemas, se possível, é que para mim isso é absolutamente importante. Talvez eu não consiga explicar o que eles significam (porque talvez eu nem saiba), mas tenho certeza de que é importante."

Grande parte da teologia cristã funciona assim. Penso então que é a importância da meditação, que nos dá, por assim dizer, o instinto do que é certo, ou a perspectiva do que é certo na visão eterna de Deus. Só podemos saber disso no momento da visão beatífica. Ver Deus é ver tudo como Ele vê e como Ele conhece.



Fr. John Main, OSB




Fonte: do livro "O Coração da Criação", Canterbury Press, 2007
Traduzido para o espanhol por Lucía Gayón, e para o português por este blog.
PERMANECER EN SU AMOR - Coordenadora: Lucía Gayón - Ixtapa, México
www.permanecerensuamor.com - permanecerensuamor@gmail.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

"A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO"


O que impede as vossas faculdades espirituais de se desenvolverem é o vosso péssimo hábito de andardes sempre apressados. Evidentemente, a rapidez, a atividade e o dinamismo são qualidades muito boas que é preciso desenvolver, porque são úteis no plano físico. Mas também deveis saber parar, para introduzirdes em vós um ritmo mais lento, mais tranquilo, mais harmonioso, que permita que outras forças, outras entidades, de natureza espiritual, se ponham a trabalhar. Não precisais de estar sempre ocupados aqui e ali, de estar sempre cheios de pressa, de andar a correr. Habituai-vos a fazer uma pausa de vez em quando, dizendo a vós próprios que, ao menos por alguns minutos, podeis finalmente estar face a face com a eternidade, com o sol, com a natureza, com os seres luminosos, convosco próprios... Então, sentireis que as forças divinas despertam e se instalam em vós, para vos transformarem.


Omraam Mikhaël Aïvanhov



Fonte: www.prosveta.com
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

ESTRATÉGIAS DE FUGA NA "MEDITAÇÃO"


Se entendemos mal a meditação e não a vemos como uma oração, como uma disciplina espiritual, mas sim vamos a ela em busca de uma forma de relaxamento, uma ferramenta para lidar com o estresse do dia a dia ou mesmo como uma forma de deixar voar nossa imaginação e fantasia, podemos ficar praticando por anos sem perceber qualquer transformação ou consciência. Na verdade, o ego bloqueará o nosso progresso e simplesmente reforçará ainda mais as ilusões que temos sobre nós mesmos e os outros. Em vez de nos fornecer um caminho para o autoconhecimento, se tornará um simples mecanismo para suprimir nossas preocupações e pensamentos.

Além disso, em vez de nos permitirmos experimentar o silêncio e a quietude, deixando os nossos pensamentos para trás durante o tempo de meditação, preferimos passar o tempo usando a nossa mente racional para compreender intelectualmente a Realidade Superior para a qual somos atraídos.

Contudo, uma lição que a filosofia e a teologia nos ensina é a limitação básica das nossas capacidades racionais. Clemente de Alexandria (século II) foi o primeiro padre da Igreja Cristã a expressar o pensamento de que Deus estava além da nossa compreensão: “Deus é inefável, além de toda fala, além de todo conceito, além de todo pensamento... Deus não ocupa uma posição no espaço e ainda assim está acima de qualquer lugar, tempo, nome e pensamento. Deus não tem limites, não tem forma, nem pode ser nomeado.”

Não existe uma resposta certa sobre o Divino; as ideias muitas vezes contradizem as explicações anteriores. Todas as teorias e teologias são tentativas limitadas de interpretação. O mais próximo que podemos chegar da verdadeira revelação e sabedoria é quando a contemplação e a teologia andam de mãos dadas. A Igreja Primitiva tinha muita consciência disso: “Quem reza é teólogo e teólogo é quem reza” (Evágrio Pôntico). Somente através da experiência espiritual o verdadeiro conhecimento da Realidade Última é percebido em um nível intuitivo profundo. Como salientaram os místicos de todos os tempos e culturas, transmitir adequadamente estas experiências transpessoais através da linguagem – um meio de expressão limitado e pouco fiável – é quase impossível. John Main cita Alfred Whitehead em “A Word Made Silence” dizendo: “É impossível meditar e contemplar o mistério criativo da natureza sem experimentar emoções avassaladoras diante das limitações da inteligência humana”.

A chave está na experiência através da oração profunda e silenciosa. Vemos a importância disso na vida de São Tomás de Aquino. Depois de uma vida inteira escrevendo e teorizando sobre o Divino, ele teve uma experiência espiritual que o tornou profundamente consciente da futilidade de nossas tentativas de racionalização. Essa experiência o fez ver todos os seus escritos como “palha” e ele não voltou a escrever.

A busca do homem pela compreensão é natural e louvável. Mas é a parte do nosso ego que adora teorizar sobre a Realidade Suprema e que fica fascinada pelas tentativas dos outros de expressar as suas teorias, a ponto de querer superá-las com novas explicações. Teorizar, filosofar, é uma atividade prazerosa e segura da mente humana. É uma maneira ideal de evitar o trabalho que realmente precisamos fazer. A meditação, o silêncio, é o caminho real para experimentar esta Realidade Suprema.



Transcrição de Kim Nataraja




Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

sábado, 18 de novembro de 2023

IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR (Parte 10 - Final)


(...)

O "imperil" é autodestrutivo, e aqueles que produzem este veneno serão derrotados pelo veneno. A coisa mais importante a fazer na hora de algum ataque é suportar o mal e neutralizar-se pela dignidade, magnanimidade e outros meios. Imediatamente quando alguém encontra seu equilíbrio e evoca a energia psíquica ou Agni (1), sua posição se fortalecerá sobre a pessoa carregada de "imperil". O mal é mantido vivo somente pela aceitação da entrada do "imperil" e pela resistência a ele. Esta é uma das lições nunca aprendida pela humanidade como um todo. A anulação do "imperil" é o crescimento do fogo espiritual.

(...)

O aborrecimento tem uma grande afinidade com a irritação. O aborrecimento é a porta para a irritação. Começa no corpo emocional, se espalha pelo corpo mental, desce para os nervos e se transforma em irritação.

(...)

Temos conhecimento sobre as úlceras, mas há também úlceras que aparecem em nosso corpo astral. Estas úlceras são produzidas pelo "imperil" e desejos baixos. A natureza tenta curar essas úlceras dos corpos sutis expelindo-as pelo corpo físico. A maioria das doenças físicas são a purificação dos corpos sutis. As doenças dos corpos sutis podem se manifestar através do corpo físico com a finalidade de serem curadas nos corpos sutis.

(...)

Algumas pessoas invocam a luz de suas Almas. Algumas invocam a luz do Cristo. Algumas entram em profunda meditação e contatam a Essência do seu ser. Estas são técnicas para serem usadas ao menor sinal de preocupação.

(...)

"A derrota da falsidade deve acontecer pela elevação da Espada Ardente (2), mas não pela irritação." (Agni Yoga Society, Aum, § 66) A espada ardente é sempre o símbolo da ação decisiva com força de vontade e visão clara. Irritação leva à ação errada, a envolvimentos emocionais e egoísticos. A elevação da espada ardente é a ação de um guerreiro poderoso, quando o clarão do espírito está operando em sua total intensidade." ...Luz não se se aglutina com irritação e medo." ( Ibid., § 144) "...Irritação é um pobre condutor." (Ibid., § 206)

(...)

"Na raiva e irritação, o homem se considera forte - isto de acordo com as considerações terrestres. Mas do ponto de vista do Mundo Sutil, o homem irritado é especialmente fraco. Ele atrai para si um grande número de pequenas entidades que se alimentam das emanações da raiva. Além disso, ele deixa cair suas barreiras e permite aos seres inferiores até lerem seus pensamentos. Por isso, o estado de irritação é inadmissível, não só como produtor de ‘imperil’, mas também como um portão aberto para entidades inferiores."

"Certamente, cada pessoa irritada prontamente concorda com essa explicação mas, imediatamente, sucumbe a uma maior irritação - tal é a natureza do ser humano comum. É espantoso quão facilmente eles concordam, só para ceder mais facilmente outra vez. Para isso, inventam justificativas singulares. O Mundo Superior pode até parecer culpado na consciência desordenada do habitante terrestre superficial! É incrível observar pessoas pondo a culpa de todos os seus males no Mundo Superior!" (Agni Yoga Society, Aum, § 331)

(1) Agni é o termo da filosofia oriental que representa o Fogo Cósmico ou a Energia Psíquica Universal que está por trás de toda a evolução do mundo.


(2) A espada ardente na Agni Yoga é uma representação simbólica da energia espiritual. É descrita como uma espada brilhante e afiada que emana do coração do praticante. A espada ardente é usada para cortar os laços com o ego e a ignorância, e para abrir o caminho para a iluminação. 



TORKOM SARAYDARIAN





Fonte: do livro "IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR"
Tradução de Simone R. Rodrigues
Ed. AQUARIANA, 1991 - 2ª Edição Brasileira, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/pintar-arte-desenhando-homens-8327708/

IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR (Parte 9)


(...)

Sempre que o "imperil" se manifesta, ele se espalha lentamente para os mecanismos (*) superiores ou inferiores correspondentes.

O "imperil" cria quatro condições perigosas:

1. um bloqueio da eletricidade vital na rede do mecanismo;

2. mal funcionamento dos centros e das glândulas que existem nos corpos mental, astral, etérico e físico;

3. crescimento excessivo das células para obter energia;

4. inanição das células e degeneração do corpo.

No plano astral, o "imperil" cria vórtices de força ou fendilhamentos que concentram energia em certas partes do corpo astral; ou faz a energia flamejante da intuição fluir no corpo astral e danificar certos centros; ou abre as portas a entidades astrais para que elas ocupem o corpo astral do homem. Esses vórtices de força se manifestam no plano físico como várias espécies de tumores. Os fendilhamentos produzem desequilíbrio, distanciamento e turbulências emocionais, e estimulam o sistema nervoso acima de seus limites, causando com isso insônia e esgotamento nervoso.

No plano mental, o "imperil" causa muitos transtornos que podem ser simbolizados pelas palavras:

- insanidade;
- negatividade;
- ânsia pelo crime;
- depressão;
- impulsos suicidas;
- isolamento.

A entidade espiritual contida no corpo humano não pode irradiar sua beleza, amor e luz quando as redes de comunicação deste corpo estão bloqueadas pelo "imperil".

Quando a orientação espiritual é sustada, o homem perde seu direcionamento e vaga atrás de valores falsos. Não importa quais sejam suas descobertas, elas são usadas para satisfazer seus impulsos cegos e julgamentos insanos, emoções instáveis e um corpo carente.

A aura global está repleta de "imperil". Pode-se indagar se a humanidade estará apta a curar nosso planeta doente, nossa aura global doente e, uma vez mais, encontrar a direção para uma vida global e planetária saudáveis.

(...)

O Mestre Morya diz: "O ‘imperil’ corrói os mais significativos reflexos da energia." É por esse motivo que muitos experimentos psíquicos fracassam, por causa da irritação e do "imperil".

Também é verdade que algumas pessoas muito cultas e capazes não conseguem impressionar e guiar outras em direção ao caminho do esclarecimento e da beleza. A irritação e o "imperil" que existem em suas naturezas, impedem essas correntes de alcançá-los, ou poluem as correntes de tal maneira que criam resultados inversos:

- rejeição; 
- indiferença;
- traição.

É possível ter-se grandes visões e grandes inspirações e, apesar disso, viver uma vida estéril por causa do "imperil" existente em nosso corpo. A criatividade aumenta à medida que a irritação diminui. A ausência da irritação é o momento da criatividade. Criatividade é manifestação de Beleza, de Bondade e de Verdade. Muitos artistas promissores falham em seu caminho para o sucesso quando permitem que a irritação se instale e envenene todo o seu ser.

(...)

O Ensinamento diz: "Nada irrita tanto o elemento ígneo quanto um pensamento desordenado." (Agni Yoga Society, Fiery Wolrd, Vol. I, § 161) Um homem pode ser vítima de pensamento desordenado por vários motivos:

a. falta de integração da personalidade;

b. um processo de desintegração acontecendo em sua personalidade devido ao "imperil", medo, ódio ou dúvida;

c. danos causados ao seu cérebro por intermédio de pensamentos negativos e maldosos;

d. confusão devido a um fraco preparo;

e. manter-se contra o Plano e a Hierarquia;

f. consciência dos fatos e vivência contrária a seu conhecimento e crenças;

g. domínio do corpo emocional agitado;

h. drogas, métodos errôneos de meditação, fumo e desperdício de energia sexual;

i. alguns exercícios psicológicos e prematuras descobertas de vidas pregressas etc.;

j. liberação de muita luz interior sem estar preparado para tal.

(*) Sistema nervoso, ou o sistema dos "nadis" etéricos (canais nervosos etéricos) e mecanismos sutis correspondentes nos planos astral e mental.

(continua na parte 10 - Final)



TORKOM SARAYDARIAN




Fonte: do livro "IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR"
Tradução de Simone R. Rodrigues
Ed. AQUARIANA, 1991 - 2ª Edição Brasileira, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/vectors/bravo-rosto-sorridente-express%C3%A3o-312241/

IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR (Parte 8)

Alguém pode perguntar: "Como devemos lidar com as impressões que vêm de fontes externas, sobre as quais, como indivíduos, não temos controle, tais como as impressões de vários crimes, notícias, televisão e rádio?" A resposta será: por intermédio da prática do desprendimento, observação e análise.

Qualquer impressão negativa deixará de criar irritação se for abordada por uma pessoa que sabe como exercitar o desprendimento, como observar as coisas de uma maneira impessoal, e como analisá-las a fim de encontrar suas causas e o processo de sua origem. Dessa maneira, uma atitude consciente, com relação à impressão negativa, interrompe sua carga e mesmo a rejeita por completo.

Desprendimento nos ajuda a não nos envolvermos e identificarmos com impressões negativas. A observação cria uma distância entre o objeto e o observador. O observador vem a existir unicamente através de um processo de observação.

A análise é a capacidade de desintegrar a impressão, enfraquecê-la através da dissecação, encontrando a causa de sua agregação e as características das partes que a agregam.

Irritação faz uma pessoa cometer ações erradas e tomar decisões erradas. Cria uma imaginação errada, resultando em emoções negativas e ações não inteligentes.

Irritação é a causa primordial da depressão. Na depressão, o sistema nervoso fica saturado de "imperil". Variadas formas de depressões são causadas pelo acúmulo de "imperil" nos vários planos.

Existe a depressão física, emocional, assim como a mental. Em cada plano, o "imperil" retarda a função dos centros e corta o fluxo de energia que ativa o veículo onde se encontram esses centros. Quando a depressão se espalha por todos os planos simultaneamente, a alma se retira da aura e o homem entra em coma, o que dura dias ou semanas. É a alma humana retraída que dispersa o "imperil" com energia psíquica e, quando a purificação necessária é atingida, ela reocupa seus veículos.

(continua na parte 9)



TORKOM SARAYDARIAN




Fonte: do livro "IRRITAÇÃO - O FOGO DESTRUIDOR"
Tradução de Simone R. Rodrigues
Ed. AQUARIANA, 1991 - 2ª Edição Brasileira, São Paulo/SP
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/illustrations/alguns-homem-mulher-discuss%C3%A3o-707505/