quinta-feira, 3 de outubro de 2013

PERSONALIDADE SOCIAL

(...) Não conseguimos evitar que se crie em nós um contraste entre aquilo que realmente somos, ou que queremos ser, e aquilo que devemos aparentar exteriormente a fim de nos amoldarmos às exigências sociais e coletivas. Algumas vezes não sabendo como resolver este contraste, somos constrangidos a recorrer a um compromisso e criamos, para nós mesmos, uma "personalidade social" que não corresponde plenamente à nossa individualidade.

Esta personalidade social é aquilo que Jung chama de "persona" (isto é, máscara, segundo o significado latino).

"O processo de civilização induz o ser humano a um compromisso entre ele próprio e a sociedade, e à formação de uma máscara atrás da qual a maioria das pessoas se refugia..." (Frieda Fordham)

Este compromisso, todavia, por estar baseado numa "falsa" adaptação à sociedade, é inevitável e também útil durante um certo período evolutivo, porque permite que o indivíduo possa inserir-se no ambiente e estabelecer relações com os outros, mas chega o momento em que o homem deve libertar-se desta máscara e alcançar uma adaptação autêntica por meio de uma conciliação sadia das duas exigências, aquela do desenvolvimento individual e aquela do sentimento social, manifestando um real e genuíno senso de relacionamentos humanos corretos.

Isto só pode acontecer depois que o homem soube criar "relacionamentos corretos dentro de si mesmo", isto é,  quando harmonizou os vários aspectos da sua personalidade e encontrou a si mesmo.

De fato, "Se uma pessoa tem um conflito dentro de si mesma... não pode criar um relacionamento harmônico com os outros... porque tendemos a projetar sobre os outros tanto os nossos conflitos quanto as nossas tendências agressivas." (Dr. Roberto Assagioli)

Há uma misteriosa conexão entre estas duas exigências inatas no homem, pois elas são interdependentes e estão intimamente ligadas. De fato, se é verdade que o indivíduo não pode efetuar uma adaptação sadia ao ambiente, se primeiro ele próprio não se realizou, também é verdade que para realizar-se ele deve saber relacionar-se com seus semelhantes.

(...) O homem que está plenamente integrado e que realizou a consciência da sua verdadeira individualidade é espontaneamente impelido a associar-se aos outros e tem a capacidade de "comunicar", isto é, de estabelecer um diálogo real e autêntico com os seus semelhantes.

O egocentrismo, a auto-afirmação, a agressividade, a separatividade, não fazem parte, realmente, da verdadeira natureza do homem, mas fazem parte daquela personalidade epidérmica e falsa que ele, quando ainda não encontrou a harmonia e a síntese dentro de si, erroneamente acredita ser o seu Eu.

O amor pelos outros, o senso de fraternidade e de unidade são frutos do comportamento natural e espontâneo dos indivíduos que encontraram o centro de si mesmos.

"A solidão é um estágio, uma condição subjetiva temporária. Ela pode e deve ser alternada e, finalmente, substituída pela genuína e vital experiência da comunicação interpessoal e interindividual, pelas ligações recíprocas, pela cooperação entre os indivíduos, entre grupos, e finalmente pela fusão por meio da intuição, da empatia, da compreensão e da identificação." (Dr. Roberto Assagioli)

Existe uma pseudo-adaptação social, útil porém não autêntica, fundamentada num compromisso, e que existe uma adaptação verdadeira que é baseada em relacionamentos humanos corretos e que nasce de uma real e autêntica maturidade social, que nos permite viver uma vida harmônica e eficiente no meio da coletividade, sem todavia impedir o livre desenvolvimento da nossa individualidade, até mesmo favorecendo-o e enriquecendo-o.

É certo que a conquista da maturidade social pressupõe o desenvolvimento de certas qualidades e de certas sensibilidades e de ascensão a um certo grau de evolução. Contudo, é a própria vida que nos encaminha gradualmente para esta meta, porque ela se move em direção à "totalidade dos vínculos", de maneira lenta porém segura, impelida por uma onda evolutiva que nada e ninguém pode deter.

Quais são, portanto, estas qualidades que devemos desenvolver para podermos estabelecer os relacionamentos humanos justos e corretos e para podermos dizer que estamos realmente "amadurecidos" no sentido social? Elas são as seguintes: compreensão, responsabilidade, empatia, cooperação, capacidade de comunicação, inocuidade e amor. (...)



Dra. Angela Maria La Sala Bata



Fonte: do livro "Maturidade Psicológica", Ed. Pensamento
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário