terça-feira, 14 de março de 2023

DO ISOLAMENTO AO AMOR


Meditamos porque sabemos com absoluta certeza que devemos superar nossa própria esterilidade. Devemos transcender a inutilidade de um sistema fechado, de uma mente puramente introspectiva. Sabemos, cada vez com mais clareza, que devemos ir além do isolamento em que nos encontramos rumo ao amor. É curioso que a introspecção, a mente observando a si mesma, nos leve a tamanha esterilidade. Por que uma mente egocêntrica se torna tão estéril? Suponha, por exemplo, que tentemos analisar algumas de nossas próprias experiências. A consequência quase inevitável é que acabamos nos observando no mesmo ato de observação. Quanto mais profundo o grau de introspecção, mais complexo será o grau em que ficaremos obcecados com nossa própria consciência. O resultado é como estar preso em uma sala cheia de espelhos onde constantemente confundimos a imagem com a realidade. E tudo o que temos são imagens de nós mesmos.

E é aqui que nos perguntamos: por que a meditação é diferente? Todos nós, quando começamos a meditar, chegamos a um ponto em que nos perguntamos "o que eu ganho com isso?", "o que a meditação está fazendo por mim?...". E é justamente nesse momento que temos que fazer um ato de fé. Pode parecer que a fé é ir para a escuridão e abraçar a esterilidade, mas não há como abraçá-la se não tivermos total abandono. Tem que ser um salto total de fé. Em outras palavras, nos envolvemos em meditação e mantra como uma forma de liberar a autoconsciência. E assim, nos comprometemos a deixar para trás nossa própria esterilidade.

Então, a aridez que experimentamos se transforma em pobreza. Uma pobreza que abraçamos plenamente. Neste ponto, somos conduzidos àquela manifestação da nossa pobreza que nos revela que só existe Deus e que Nele tudo é riqueza e amor... A esterilidade torna-se pobreza: um estado de total simplicidade, total vulnerabilidade e total abandono, em Deus e no seu amor.

Desta forma, a autoconsciência dá lugar à verdadeira consciência. Tomamos consciência de tudo o que está além do nosso próprio horizonte: as coisas como realmente são, o que é Deus, e que Deus é Amor. Portanto, a introspecção torna-se uma visão de autotranscendência porque tudo o que vemos agora vemos com luz divina expandida ao infinito. Vemos a realidade, tudo o que existe, banhado no amor infinito de Deus. E podemos entender claramente por que isso é assim. Porque nos comprometemos com o caminho da fidelidade à meditação e ao mantra: compromisso com Deus. O compromisso com a fé, com o que está além de nós. Assim, nos apropriamos de nosso destino e encontramos nosso sentido na maravilha de Deus.

“Del aislamiento al Amor”, extracto de “El camino de lo Desconocido” de John Main, OSB, (Nueva York: Crossroad, 1990), pp. 44-46.


Carla Cooper



Fonte: WCCM Espanha - Comunidad Mundial para la Meditación Cristiana
http://wccm.es/
Traduzido por WCCM España e para o português por este blog.
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário