sábado, 25 de maio de 2013

CRISES

Apesar do termo ”crise” gerar um certo medo, desconforto e até repulsão na maioria dos homens, chega um momento na vida de encará-lo sob outros ângulos e conceitos.

É chegado o momento em que devemos ver uma crise, em todos os seus níveis, como a própria aceleradora e estimuladora das transformações, das transmutações e das mudanças significativas. Além disto, não devemos esquecer o ensino, já milenar, que nos mostra a crise como algo inerente à vida manifestada, ou seja, tudo o que é manifestado está sob o conflito de duas energias, uma subjetiva e outra objetiva. Uma tensão constante que conduz à crise para que se processe as mudanças, ou seja, a própria evolução. Se assim for o enfoque, estaremos aptos às mudanças, ao crescimento, ao serviço e à evolução.

A crise é um momento de tensão ou dificuldade. Dificuldade de integrar o novo e as novas possibilidades que surgem no caminho. Entretanto, a superação é um fato e mais cedo ou mais tarde ela ocorre. A superação é sempre, no final, construtiva, pois uma crise nos obriga a optar, a ir mais além, a buscar novas alternativas e decisões.

Como em qualquer época, hoje principalmente, podemos falar de diversas crises. E os fatores são diversos: passado/futuro, tendências/tradição, enganos/acertos, oportunidades/inércia, modelo de sociedade, sentido de vida, ser/ter, relacionamentos, missão/ecumenismo, individual/global, mundialização (economia, ideias, política, educação, comunicação etc.), redescoberta de que se é parte de um todo e “desaprender” certas coisas pela verdade. Poderíamos citar aqui, em continuação, muitos outros fatores geradores de crise.

Está muito claro que as crises despertam os seres da inércia e são fontes de experiências superiores. Por exemplo, cada país, cada grupo de países que está se formando e todos os países juntos do planeta estão percebendo, por um lado, neste processo de globalização, suas deficiências, dificuldades, rebeldias, crises de valores diversos e medo de perder sua identidade. Contudo, por outro lado, percebem a riqueza de experiências que a unidade confere e ao estímulo às corretas relações. A humanidade acostumada a viver em grupos separados; as próprias pessoas também a viverem separadas; cada grupo e pessoa com a sua própria verdade relativa ou até mesmo uma ilusão particular são agora sacudidos por exigências intransferíveis e cada vez mais urgentes por “pressão” da alma e do ciclo evolutivo alcançado.

O amadurecimento ou a chegada do ritmo da alma fez com que a personalidade humana entrasse numa crise de adaptação. E a humanidade também está passando, como um todo, pelo mesmo processo e assim também os países. É o espírito de união, como uma necessidade de toda a natureza, que se faz presente. Tal união chega quando as coisas se desgastam com o tempo e a futilidade. E não conseguindo mais atuarem suficientemente e produtivamente entram em crise e desencadeiam, por este fato, rearranjos.

Uma das piores crises talvez seja a falta de objetivo na vida, a falta de direção ou meta. É um vazio existencial que, como personalidade humana, parece não haver solução e ser intransponível. Mas como a crise é um meio caminho entre um problema e uma solução, os caminhos às soluções estão abertos à novas luzes.

A constatação de que devemos estar junto às coisas num ritmo cooperativo e harmonioso e não sobre as coisas possessivamente, egoisticamente e como senhores, tem levado uma considerável parcela da humanidade a refletir sobre o quanto somos mesquinhos, apegados e presunçosos. Tal constatação tem impulsionado a humanidade a novos crescentes valores, tanto em nível pessoal quanto em nível social e vida de serviço. Nota-se assim, perfeitamente, como uma crise leva ao despertar social, existencial e espiritual.

A alma é uma verdadeira desbravadora, pois prepara a personalidade humana para a manifestação e atuação do ser interior e profundo; neste preparo dão-se as crises entre a alma e a personalidade. E isso se processa, como estamos vendo, de diversas maneiras. Por exemplo, as crises podem advir de diversas formas ou situações ou reações: como uma iluminação da mente que nos faz ver a realidade; um acidente que altera um curso de vida; a separação de alguém que estamos fortemente ligados etc. O mecanismo evolutivo é “cego” aos nossos interesses particulares e somente vê o que é melhor para o indivíduo e coletividade.

Observa-se nisto que a crise é o momento em que a força da alma humana exige um mecanismo novo e harmônico. E no nível humano com sua necessidade evolutiva podemos dizer que a evolução está intimamente ligada ao desapego. Ao evoluirmos nos desapegamos e ao nos desapegarmos evoluímos. E as crises nascem exatamente da dificuldade de nos desapegarmos das coisas e situações de nossa personalidade e dos mundos onde atuam as personalidades, vida após vida.

Por isto, certamente, as crises nos fazem amadurecer, enfrentar a realidade e encontrar caminhos novos exigidos pela alma, pelo espírito. É uma luta conflitiva conosco mesmo, onde somos puxados por dois pólos opostos. Atuam nos seres humanos levando-os a duas reações: uma como “um mal necessário” gerando guerras, doenças, conflitos etc., como já foi dito, mas que despertam algo no ser humano; outra levando os seres diretamente à conscientização, à paz, à saúde etc.

A natureza e os seres são naturalmente dinâmicos em sua interioridade e processos; e são as crises, provocando tensões, que impulsionam ou possibilitam a evolução e crescimento. A inércia é apenas uma visão distorcida e fragmentada do grande dinamismo universal. É apenas uma pausa entre uma crise e a solução. É um momento onde repensamos e reajustamos situações críticas e que exigem soluções. A própria crise movimenta a inércia e a própria inércia aciona a crise.

Assim se movem e evoluem os mundos e os seres. A “ânsia” evolutiva é a crise e a tensão em ação. Mistérios da vida aos nossos olhos, mas uma mão que guia a tudo e a todos.


Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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