“A criança pequena não separa a si mesma da realidade circundante – sua consciência “eu-mundo” é integrada. Durante essa fase, ela vivencia lenta e gradativamente a separação, ou seja, adquire a noção de sujeito – ela própria – e objeto – o mundo. Confiante no mundo, a criança se entrega a ele e vive na ação. Seus sentidos poucos especializados recebem, sem crítica, as impressões que possibilitarão o desenvolvimento de sua capacidade de percepção. Ela vive a realidade de si mesma e do mundo de forma una, profunda e total. A importância dos contos de fada está na condição de sementes que, lançadas na alma, produzirão sentimentos, ideias, ideais. Ao se tornarem adultas, enfrentando as dúvidas e dificuldades da vida poderão resgatar, conscientemente ou não, a força de suas verdades. A vivência dessas histórias contadas, a própria energia dos símbolos, representam um tesouro que se transformará em qualidades para atuar e compreender o mundo e a si mesmo.”
A criança vive os contos de fada desde o momento em que começa a dizer eu até aproximadamente os sete anos, podendo contá-las, dependendo da história e de seu próprio desenvolvimento, até por volta dos nove anos.
Neste período ela não separa a si mesma da realidade circundante – sua consciência “eu-mundo” é integrada. Durante essa fase, ela vivencia lenta e gradativamente a separação, ou seja, adquire a noção de sujeito – ela própria – e objeto – o mundo.
Confiante no mundo, a criança se entrega a ele e vive na ação. Seus sentidos poucos especializados recebem, sem crítica, as impressões que possibilitarão o desenvolvimento de sua capacidade de percepção. Ela vive a realidade de si mesma e do mundo de forma una, profunda e total.
De início há uma vivência inconsciente, principalmente a da luta entre as forças da matéria (impulso natural ou libido) e as forças da forma (impulso individual e formativo) que atuam em seu corpo físico. Essa atuação, às vezes de maneira calma, outras vezes turbulenta, orientam seu desenvolvimento corpóreo segundo leis de crescimento, maturação, equilíbrio, proporção e harmonia. Há um predomínio das energias vitais, denominadas “corpo etérico”, cujo objetivo é o desenvolvimento físico.
Nessa fase, a criança constrói uma imagem de si mesma e do mundo. Essas representações são exteriorizadas por meio do desenho e da modelagem, expressando a atividade de seu próprio corpo em crescimento ou a realidade externa como ela a percebe.
O trabalho educativo nesse período, objetiva proporcionar conteúdos para especializar, sensibilizando seu corpo de percepção, e desenvolver sua habilidade motora – um lado do processo. O outro lado, tão importante quanto o primeiro, é o desenvolvimento da linguagem e da imaginação por meio dos contos de fada, preferencialmente os coletados pelos Irmãos Grimm, em virtude de sua maior fidedignidade à tradição oral. Os contos de fada são narrados com a certeza de que nada tem a ver com a questão da percepção sensorial. Como um pequeno Adão, a criança inicia seu reconhecimento do mundo a partir da força da palavra, nomeando a si e às coisas do mundo, mas o nome (signo) e o ser (significado) estão integrados, da mesma forma como a própria criança com o mundo. A palavra com significado pleno, o logos, forma a própria linguagem da criança, bem como a base ético-moral, hábitos e costumes, sua confiança no mundo.
Para qualquer criança, ouvir contos de fada seria como um retorno a um país de origem, país em que se situa o berço da humanidade. Os conteúdos dos contos de fada são próprios para os pequenos. Sua importância está na condição de sementes que, lançadas na alma, produzirão sentimentos, ideias, ideais. Ao se tornarem adultas, enfrentando as dúvidas e dificuldades da vida, tais pessoas poderão resgatar, conscientemente ou não, a força de suas verdades. A vivência dessas histórias contadas, a própria energia dos símbolos, o momento mágico, a intimidade da relação adulto-criança, a confiança depositada no educador e, portanto, no mundo, representam um tesouro que se transformará em qualidades para atuar e compreender o mundo e a si mesmo.
Sueli Pecci Passerini
Fonte: do livro "O Fio de Ariadne – Um caminho para a narração de Histórias", Editora Antroposófica, via http://www.antroposofy.com.br/forum/consideracoes-sobre-os-contos-de-fada/
Fonte da Gravura: http://www.antroposofy.com.br/forum/consideracoes-sobre-os-contos-de-fada/
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