terça-feira, 26 de maio de 2020

O SUBLIME MISTÉRIO OCULTO NO HOMEM



[...] O Ocultismo sabe que o homem é um ser mental agindo através do corpo físico que lhe serve de instrumento para a aquisição de experiência no plano físico. Ele não é apenas uma entidade mental, mas tem também um núcleo espiritual de potencial ilimitado no qual pode ver a si mesmo como sendo um com a Realidade que fundamenta o universo, geral e vagamente designada como Deus. É através deste Centro espiritual, ou antes divino, oculto sob muitas camadas da mente, que ele pode entrar em contato com todo o universo, em todos os níveis de sutileza e resolver em seu interior, no mais profundo de sua consciência, o total e eterno mistério de sua própria natureza, do universo e da Realidade da qual ambos são derivados. Por conter em si mesmo o sublime mistério de sua existência, oculto nas profundezas de sua mente, é que o homem pode vir a percebê-lo, transcendendo sistematicamente as diferentes camadas da mente.

A filosofia do Ocultismo baseia-se desse modo na revelação sistemática do mistério por um grande número de Adeptos do Ocultismo, alguns dos quais têm se manifestado ao mundo, de tempos em tempos, como sábios, santos e místicos. Esse grupo de homens coordenou a Sabedoria Eterna, repetidamente verificou-a com sua própria experiência e preservou-a através das idades como um legado para toda a humanidade. São esses homens, os verdadeiros guardiães da humanidade, que trabalham constantemente por trás dos bastidores guiando-a pelo caminho da evolução, que é seu destino, com sabedoria e vontade infalíveis.

Pelo exposto acima fica claro que não pode haver comparação entre esta filosofia e a do materialismo. Esta ultima baseia-se em percepções sensoriais de pessoas ainda envolvidas nas limitações da mente inferior e que, com dados incompletos e vagos, tentam desenvolver, sobre o homem e o universo, teorias experimentais constantemente em mutação. A primeira fundamenta-se na experiência direta de seres Auto-realizados e liberados que têm não apenas investigado sistematicamente os mundos mais sutis, como também encontraram a Verdade final da existência e procuram projetá-la nos reinos do pensamento, em benefício daqueles que ainda são prisioneiros de suas próprias mentes.

Nos dias atuais tem-se dado grande consideração às realizações da ciência, como o homem está descobrindo os segredos do átomo, sondando cada vez mais as enormes profundezas do espaço, caçando micróbios, controlando doenças etc., e por isso muitos ingênuos acreditam que a ciência acabará por resolver todos os problemas humanos e por fazer da Terra um céu sem Deus. Seria absurdo minimizarem-se as realizações da ciência. Elas são realmente admiráveis, mas não exageremos sua importância ou eficácia na solução dos problemas mais profundos que a humanidade tem de enfrentar. A ciência já criou problemas muito sérios e urgentes por ignorar as realidades da vida, e o desenvolvimento de nossa natureza moral e espiritual não acompanhou o do intelecto. Talvez nunca tenha antes havido tanta inquietação, medo, conflito, incerteza, tanto acúmulo de meios de destruição em massa, tanta concentração de poder em indivíduos, muitos dos quais, por simples acidente ou erro de julgamento, podem destruir populações inteiras, infligindo enorme sofrimento a pessoas inocentes e desamparadas. Mesmo os inúmeros prazeres e meios de diversão que a ciência vem proporcionando não são benefícios puros, pois fazendo com que o homem se volte cada vez mais para o exterior tornam-no superficial e isolado da única fonte de verdadeira força, paz e sabedoria que está dentro dele. A quase universal e progressiva insatisfação da juventude que procura lenitivo na mudança constante, nas excitações de várias espécies e mesmo nas drogas, é um sintoma da moléstia básica que aflige nossa civilização - a desintegração da psique que se verifica quando o homem repudia sua natureza espiritual e é separado de seu Centro Divino. Nem tudo isso, é claro, deve-se propriamente à ciência, mas à filosofia materialista desenvolvida e adotada por aqueles que trabalham pelo progresso da ciência ou a exploram para seus propósitos políticos e sociais de curta visão.

Ao considerarmos a filosofia do Ocultismo, não devemos confundi-la com as filosofias geralmente associadas às doutrinas das religiões ortodoxas. É verdade que as grandes religiões do mundo foram transmitidas por instrutores espirituais que estavam em contato com as realidades interiores, e assim as doutrinas fundamentais dessas religiões refletem mais ou menos as doutrinas que fazem parte do Ocultismo. Mas nenhuma religião permanece em sua pureza original, livre de acréscimos que, no decorrer do tempo, vão se acumulando; nenhuma permanece incólume aos preceitos e fraquezas daqueles que transmitem as doutrinas de uma geração para outra, apos a perda de contato com as realidades interiores. É inevitável, por conseguinte, que todas as religiões se tornem cada vez mais deterioradas, ineficientes e formais. Eis por que o estudo e a prática de todas as religiões requerem discriminação, e aquele que procura seriamente a Verdade deve tentar separar cuidadosamente o que é verdadeiro e fundamental do que é falso e supérfluo, resultante de acréscimos que tiveram lugar no decorrer do tempo.

É necessário o mesmo cuidado no estudo das várias filosofias que, de tempos em tempos, são formuladas por filósofos acadêmicos nos diversos países. Cumpre estudá-las com discernimento, fazendo-se um esforço para separar o que é baseado em pura especulação do que é apoiado no conhecimento. O teste decisivo no caso de todas as doutrinas, quer de natureza religiosa quer filosófica, é estarem fundamentadas em experiência direta e poderem ser verificadas experimentalmente por alguém que possua as qualificações necessárias. Esse teste talvez não seja fácil de ser efetuado, mas todas as religiões e filosofias devem ser submetidas a ele, a fim de se comprovar sua validade. [...]


I. K. Taimni



Fonte: do livro "O Homem, Deus e o Universo", I. K. Taimni, Ed. Pensamento, pp. 7-9
Fonte da Gravura: Acervo de autorial pessoal

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