sexta-feira, 7 de outubro de 2022

A NATUREZA DO SOFRIMENTO E A LEI DO CARMA


Assim como a evolução dos seres orgânicos se verifica segundo um conjunto de leis (lei da gravidade, do eletromagnetismo, da hereditariedade, da seleção natural etc.), também a evolução dos Espíritos se dá segundo leis de diferentes naturezas, desconhecidas da ciência oficial e, paulatinamente, reveladas pela doutrina espírita.

Kardec denominou esse conjunto de princípios de lei natural, afirmando que é a única necessária à felicidade dos homens e que apenas sofremos quando nos afastamos dela. (O Livro dos Espíritos, item 614) O progresso se dá pelo cumprimento da lei natural, que se encontra estabelecida na consciência do homem. (O Livro dos Espíritos, item 621) O bem consiste em nos identificarmos com ela, o mal em desconsiderarmos seus princípios. O bem traz consigo o melhoramento do ser e a aquisição de faculdades nobres que nos aproximam de Deus. O mal, ao contrário, provoca a paralisação dessa marcha, o embotamento das forças do Espírito e a inserção em experiências educativas, que muitas vezes, são dolorosas. Há, portanto, uma sanção à infração da lei natural.

Em decorrência de uma atitude humana equivocada segue-se, como visto, uma resposta da lei divina, que se dá, a princípio, na consciência do Espírito faltoso. Essa resposta pode ser examinada do ponto de vista qualitativo e quantitativo.

Sob o aspecto qualitativo, parece ser uma resposta mais ou menos padronizada. O pensamento espírita admite que cada um é punido naquilo em que pecou. Esta afirmação dos Espíritos veio em resposta ao questionamento de Kardec: se da análise das vicissitudes da vida corpórea se possa induzir quanto ao gênero da existência anterior. Kardec parece ter entendido que sim, que o tipo de sofrimento guarda relação de intimidade com o tipo de ação cometida em existência pretérita. Pode-se deduzir isso pelo seguinte comentário de Kardec:

[...] a natureza dessas vicissitudes e das provas que sofremos também nos podem esclarecer acerca do que fomos e do que fizemos, do mesmo modo que neste mundo julgamos dos atos de um culpado pelo castigo que lhe inflige a lei. (O Livro dos Espíritos, item 399)

Ao voltar ao assunto, em outra obra, Kardec é ainda mais explícito, ao afirmar que:

[...] pela natureza dos sofrimentos da vida corpórea pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anteriores existências. (O céu e o inferno, parte I, cap. 7)

Examinando a lei de causa e efeito agora sob o aspecto quantitativo, é natural indagar-se: havendo Espíritos de diversos graus, o bem e o mal seriam os mesmos para todos eles? Kardec preocupou-se com essa questão e perguntou aos Espíritos se são absolutos, para todos os homens, o bem e o mal. A essa indagação, seguiu-se a resposta:

A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de praticá-lo. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade. (O Livro dos Espíritos, item 636)

No item seguinte, Kardec insiste no tema, perguntando se o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana é culpado? Na resposta, os Benfeitores reafirmam o que disseram:

[...] tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz. (O Livro dos Espíritos, item 637)

Diante do pensamento dos Benfeitores, Kardec comenta:

As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas que, nem por serem consequência da posição em que a sociedade o colocou se tornam menos repreensíveis. Mas, a sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos. (O Livro dos Espíritos, item 637)

Pode-se concluir, portanto, que do ponto de vista quantitativo erros equivalentes nem sempre receberão da lei uma resposta de igual intensidade. Vários fatores se relacionam a uma atitude equivocada, sob o aspecto da culpabilidade, atenuantes uns, agravantes outros.

A própria definição de ato moral, que é o objeto de estudo da ética filosófica, relaciona a atitude em si mesma com as suas motivações e com a intenção de fazê-la. Os atos morais são atos humanos conscientes e voluntários dos indivíduos que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais ou a sociedade em seu conjunto. O ato moral se apresenta como uma totalidade de elementos: motivo, intenção ou fim, decisão pessoal, emprego de meios adequados, resultados e consequências. Sendo, então, um ato consequencial livre, ele só pode ser considerado como tal, e passível de punição, se for cometido livremente por alguém consciente do que está fazendo. Ato cometido sob absoluta pressão, que não deixa ao agente a possibilidade de não fazê-lo, não é considerado como passível de responsabilidade.

O Livro dos Espíritos estabelece, então, que a lei natural culpabiliza os erros humanos segundo dois parâmetros: a intenção e o grau de conhecimento que se tenha em relação ao cometido. (O Livro dos Espíritos, item 954)

Do ponto de vista da intenção, vê-se que, muitas vezes, erros de consequências danosas são cometidos por pessoas bem intencionadas (o que obviamente atenua sua responsabilidade), e, de forma diversa, o desejo do mal, às vezes, não se concretiza apenas por falta de oportunidade, o que não deixa de ser um erro.

Por outro lado, a ignorância pode atenuar uma falta. No entanto, o desconhecimento nem sempre pode desculpar a falta por completo, pois a ausência de conhecimento, em muitas ocasiões, se dá por descaso ou indolência.

Não se pode desculpar aquele que alega não conhecer o erro, quando a possibilidade de conhecê-lo encontrava-se à sua mão. Como regra geral, a culpabilidade diante de uma falta é diretamente proporcional ao progresso intelectual amealhado, pois este lhe dá a verdadeira medida do que foi feito e das possíveis consequências do ato praticado.

Em resumo: a atitude equivocada lesa a mente, e a partir daí, se desencadeia a resposta imposta pela lei natural. Podemos então aventar a hipótese de que a energia psíquica gerada pelo ato criminoso terá um poder lesivo diferente, relacionado ao contexto em que foi perpetrado e proporcional aos dois fatores previamente citados: intenção e conhecimento.

Vejamos a seguinte metáfora: em uma parede são desferidos tiros com armas de calibres distintos. Todos os tiros estarão danificando a parede, mas o grau de dano será proporcional à energia de impacto decorrente do tamanho da bala e da potência da arma. Uma espingarda de “chumbinho” talvez apenas danifique a pintura, mas um tiro de canhão vai destruí-la por completo. Acreditamos que o mesmo se dê com os atos humanos. Atitudes criminosas cometidas por indivíduos em fase primária da evolução humana serão como tiros de “chumbinho”. A mesma atitude cometida por indivíduos em condição evolutiva superior serão como tiros de canhão.




Ricardo Baesso de Oliveira




Fonte: do livro "O Sentido da Reencarnação"
EVOC – Editora Virtual O Consolador, 2020
Londrina-PR
Fonte da Gravura: https://cdn.mensagenscomamor.com/content/images/m000484897.jpg?v=1&w=463&h=410

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