sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A LUZ SEM FONTE

Perguntaram a Osho:

Você mencionou que os movimentos rápidos dos olhos indicam processos mentais e que, se os movimentos dos olhos forem parados, os processos mentais também cessarão. Mas esse controle fisiológico dos processos mentais, essa cessação dos movimentos dos olhos, parece criar tensões psíquicas, como acontece quando nós mantemos nossos olhos fechados sob uma venda por um longo tempo.

Em primeiro lugar, sua mente e seu corpo não são duas coisas no que se refere ao tantra. Lembre-se disso sempre. Não diga “processo fisiológico” e “processo mental”. Eles não são dois - simplesmente duas partes de um lodo. Tudo o que você faz fisiologicamente, afeta a mente. Tudo o que você faz psicologicamente, afeta o corpo. Eles não são dois, eles são um.

Você pode dizer que o corpo é um estado sólido da mesma energia e a mente é um estado líquido da mesma energia. Então, não importa o que você esteja fazendo fisiologicamente, não pense que é apenas fisiológico. Não se pergunte como isso irá ajudar alguma transformação na mente. Se você toma álcool, o que acontece à sua mente? O álcool é tomado no corpo, não na mente, mas o que acontece à mente? Se você toma LSD, ele vai para o corpo, não para a mente, mas o que acontece à mente?

Ou se você faz um jejum, o jejum é feito pelo corpo, mas o que acontece à mente? Ou outro extremo: se você tem pensamentos sexuais, o que acontece ao seu corpo? O corpo é afetado imediatamente. Você pensa na mente em um objeto sexual e seu corpo começa a ficar pronto.

Há uma teoria de William James. Na primeira parte deste século, ela aparentemente parecia muito absurda, mas em um certo sentido ela está certa. Ele e outro cientista chamado Lange propuseram essa teoria que é conhecida como teoria James-Lange. Comumente, nós dizemos que você está com medo e por isso você foge e sai correndo, ou você está com raiva e por isso seus olhos ficam vermelhos e você começa a bater em seu inimigo.

Mas James e Lange propuseram exatamente o contrário. Eles disseram que, porque você corre, por isso você sente medo; e porque seus olhos ficam vermelhos e você começa a bater em seu inimigo, você sente raiva. É exatamente o oposto. Eles diziam que se não fosse assim, então, nós queremos ver ao menos um instante de raiva, quando os olhos não estão vermelhos e o corpo não está afetado e a pessoa está simplesmente com raiva. Não permita que seu corpo seja afetado e tente ficar com raiva — então, você saberá que não pode ficar com raiva.

No Japão, os pais ensinam seus filhos um método muito simples de controle da raiva. Eles dizem que, sempre que você sentir raiva, não faça nada com a raiva, apenas comece a fazer respirações profundas. Tente isso, e você não será capaz de ficar com raiva. Por quê? Só por você respirar profundamente, por que você não pode ficar com raiva? Torna-se impossível ficar com raiva. Duas razões... Você começa a fazer respirações profundas - mas a raiva precisa de um ritmo especial de respiração. Sem esse ritmo a raiva não é possível. Um ritmo especial na respiração, ou respiração caótica é necessária para a raiva existir.

Se você começa a fazer respirações profundas, é impossível a raiva sair. Se você está conscientemente fazendo respirações profundas, então, a raiva não pode expressar-se. Ela precisa que uma respiração diferente seja permitida. Você não precisa fazê-lo; a raiva o fará por si mesma. Com respiração profunda, você não pode ficar com raiva.

E em segundo lugar, sua mente muda. Quando você sente raiva e você começa a fazer respirações profundas, sua mente é mudada da raiva para a respiração. O corpo não está em um estado para ficar com raiva, e a mente mudou sua concentração em direção a alguma outra coisa. Então, é difícil ficar com raiva. Eis por que os japoneses são as pessoas mais controladas da Terra. É simplesmente um treinamento da infância.

É difícil encontrar em qualquer outro lugar um tal incidente, mas no Japão acontece até mesmo hoje em dia. Está acontecendo cada vez menos e menos, porque o Japão está se tornando cada vez menos e menos japonês. Ele está se tornando cada vez mais e mais ocidentalizado, e os métodos e caminhos tradicionais estão se perdendo. Mas acontecia, e acontece ainda hoje.

Um de meus amigos estava em Kyoto e ele me escreveu uma carta dizendo: “Eu vi um fenômeno tão bonito hoje que quis escrever-lhe sobre ele. E quando eu voltar, eu vou querer entender como isso é possível. Um homem foi atropelado por um carro. Ele caiu, levantou-se, agradeceu ao motorista e foi embora — ele agradeceu ao motorista”!

No Japão, isso não é difícil. Ele deve ter feito algumas respirações profundas e, então, isso tornou-se possível. Você é transformado para uma atitude diferente, e você pode até mesmo agradecer a uma pessoa que estava indo matá-lo, ou que tinha tentado matá-lo.

Processos fisiológicos e processos psicológicos não são duas coisas, eles são uma só e você pode começar de um pólo para afetar e mudar o outro. E qualquer ciência fará isso. Por exemplo: o tantra acredita profundamente no corpo. Somente a filosofia é vaga, aérea, verbal; ela pode começar de qualquer outro lugar. Ao contrário, qualquer abordagem científica está fadada a começar no corpo, porque ele está dentro de seu alcance. Se eu falo de alguma coisa que está além de seu alcance, você pode escutar, você pode guardar aquilo na sua memória, você pode falar sobre aquilo, mas nada acontece. Você permanece o mesmo. Sua informação é aumentada, mas não o seu ser. Seu conhecimento continua aumentando, mas o seu ser permanece a mesma pobre mediocridade; nada acontece a ele.

Lembre-se: o corpo é aquilo que está dentro de seu alcance: exatamente agora você pode fazer alguma coisa com ele e mudar a sua mente através do corpo. Em pouco tempo você se tornará um mestre do corpo e, então, você se tornará um mestre da mente. E quando você se tornar um mestre da mente, você mudará a mente cada vez mais e mais, e você estará se movendo para além dela. Se o corpo muda, você se move para além do corpo. Se a mente muda, você se move para além da mente. E sempre faça alguma coisa que você pode fazer.

Por exemplo: você pode não ser capaz de se tornar um mestre da raiva, como um Buda, exatamente agora. Como pode? Mas você pode mudar sua respiração e, então, você pode sentir o efeito sutil, a mudança. Faça isso. Se você se sente preenchido de paixão, paixão sexual, faça umas poucas respirações profundas e sinta o efeito: a paixão terá desaparecido.

A esposa de Aldous Huxley, Laura Huxley, escreveu um belo livro - apenas conselhos simples para se fazer certas coisas. Se você sente raiva, Laura Huxley diz: retese o seu rosto. Você pode retesar de uma maneira - por exemplo, no banheiro — de forma que ninguém poderá ver.

Uma pessoa está sentada exatamente em sua frente e você sente raiva — então, apenas retese o seu rosto. Continue retesando-o tanto quanto você possa e, então, de repente, relaxe e sinta a diferença. A raiva terá ido embora. Ou se ela não foi, faça-o novamente. Continue fazendo isso — duas vezes, três vezes... O que acontece? Se você retesa seus músculos faciais e os continua retesando e tencionando, a energia que estava se tornando raiva move-se para o seu rosto.

E é muito fácil ela se mover para o rosto. Quando você está com raiva, como você se sente? Você sente que quer bater em alguém com seus punhos. A energia está presente; assim, use-a. Se você puder usá-la, ela é dispersa. Seu rosto se tornará relaxado, e a outra pessoa nem mesmo será capaz de saber que você estava com raiva. Parecerá como se nada lhe tivesse acontecido. E uma vez que você conheça essas coisas, você se tornará cada vez mais e mais consciente de que a energia pode ser transformada, desviada, detida, liberada ou impedida de ser liberada, ou usada de um modo diferente. Se você pode usar a sua energia, você se torna um mestre. Então, um dia você pode não usá-la absolutamente; você pode preservá-la.

Esse exercício não é bom para um Buda - fechar os punhos. Isso não é bom para um Buda, porque isso é desperdício de energia. Mas isso é bom para você. Pelo menos, o outro fica a salvo de você, e um círculo vicioso é evitado. Se você ficar com raiva, ele ficará com raiva e não há fim para isso. Isso pode perturbar toda a sua noite, e pode continuar como uma ressaca por uma semana. E, então, por causa dessa ressaca, você pode fazer muitas coisas que nunca tencionou fazer. Não diga que isso é apenas fisiológico. Você é fisiológico; assim, o que pode ser feito? Você é físico; você não pode negar esse fato. Use a sua energia. Não há nenhuma necessidade de negá-la.

Se você fecha seus olhos, algumas vezes você pode sentir uma certa tensão se ajuntando ali, ou um desconforto. Então, há certas coisas que você pode fazer. Uma: quando você fechar seus olhos, não se torne tenso com isso, deixe-os estarem relaxados. Você pode fechar seus olhos com força - então, ficará tenso. Então, seus olhos ficarão cansados e, internamente, você se sentirá desconfortável. Relaxe o rosto, relaxe os olhos e deixe-os ficarem fechados. Eu digo: deixe-os ficarem fechados; não os feche. Relaxe! Sinta-se relaxado. Deixe as pálpebras caírem e deixe os olhos ficarem fechados. Não os force! Se você os forçar, isso não é bom.

Se você não pode sentir a diferença, então, faça isso: primeiro, force-os a fecharem-se. Deixe todo o seu rosto se tornar tenso, retesado e, então, feche seus olhos com força. Por uns poucos momentos, permaneça retesado, então, relaxe. Novamente, feche seus olhos relaxadamente. Então, você sentirá a diferença. Não faça nada à força — isso irá lhe cansar.

Segunda coisa: quando os olhos estiverem fechados e seu rosto estiver relaxado, olhe como se tudo tivesse ficado escuro. Uma profunda escuridão o envolve. Imagine que você está no meio da escuridão, em uma escuridão profunda, aveludada, envolvido por ela, em uma noite profunda e escura. Continue sentindo essa escuridão. Isso ajudará seus olhos a cessarem seus movimentos. Sem nada para ser visto, os olhos irão parar. Fique na escuridão.

Você pode fazer isso em um quarto escuro. Abra os seus olhos, olhe para a escuridão; então, feche os olhos e sinta a escuridão. Novamente, abra os olhos, sinta a escuridão; feche os olhos, sinta-a interiormente. A escuridão é profundamente relaxante. A escuridão está fora e dentro de você; tudo está morto — escuro e morto. Ambos estão relacionados. Eis por que nós pintamos a morte de preto, escura. Por todo o mundo a morte é pintada toda de preto, e as pessoas temem a escuridão.

Enquanto fazendo esse método, sinta a escuridão, ame a escuridão, e sinta interiormente que você está morrendo. A escuridão está por toda volta e você, está morrendo. Os olhos irão parar. Você sentirá que eles não podem se mover, eles terão parado. Nessa parada, de repente, a energia subirá e começará a martelar o terceiro olho. Quando ela começar a martelar, você ouvirá, você sentirá. Um calor chegará, um fogo fluirá - um fogo líquido tentará encontrar um novo caminho.

Não fique com medo. Ajude-o, coopere com ele, deixe-o mover-se, torne-se ele. E quando o terceiro olho se abrir pela primeira vez, a escuridão desaparecerá e haverá luz - luz sem nenhuma fonte. Você viu luz, mas sempre com uma fonte. Ou ela vem do sol ou vem das estrelas ou da lua ou de uma lâmpada, mas alguma fonte existe.

Quando sua energia se mover através do terceiro olho, você conhecerá a luz sem fonte. Ela não está vindo de nenhuma fonte, ela simplesmente existe, sem vir de algum lugar. Eis por que os Upanishads dizem que Deus não é como o sol ou como uma chama. Ele é uma luz sem fonte. Não há nenhuma fonte em nenhum lugar, simplesmente há luz, exatamente como se fosse de manhã.

O sol não surgiu, mas a noite desapareceu. No meio, há o alvorecer - o pré-alvorecer. Ou à tarde, o sol se pôs e a noite ainda não veio. Exatamente no meio há uma margem. Eis por que os hindus escolheram sandhya como um momento apropriado para meditação. Sandhya é o momento entre — nem noite nem dia, apenas a linha que divide. Por quê? Simplesmente como um símbolo. A luz está presente, mas sem uma fonte. O mesmo acontecerá dentro; a luz estará presente sem uma fonte. Espere por ela; não a imagine.

A última coisa a ser lembrada: você pode imaginar qualquer coisa; assim, é perigoso lhe contar muitas coisas. Você pode imaginá-las. Você fechará os olhos e sentirá que “agora o terceiro olho se abriu” ou “está se abrindo”, e você pode imaginar luz também. Não imagine; resista à imaginação. Feche os seus olhos. Espere! O que quer que venha, sinta-o, coopere com aquilo, mas espere. Não pule à frente; do contrário nada acontecerá. Você estará tendo um sonho - um sonho belo e espiritual, mas nada mais.

As pessoas continuam vindo a mim e dizem: “Nós vimos isso e nós vimos aquilo”. Mas elas imaginaram aquilo - porque se realmente tivessem visto, elas estariam transformadas. Mas elas não estão transformadas. Elas são as mesmas pessoas, somente que agora um orgulho espiritual foi adicionado. Elas tiveram algum sonho - sonhos belos, espirituais: alguém está vendo Krishna tocando a sua flauta, alguém está vendo luz, alguém está vendo a kundalini subindo. Elas continuam vendo coisas e elas permanecem as mesmas - medíocres, estúpidas, obtusas. Nada aconteceu a elas; elas continuam relatando que isso está acontecendo, que aquilo está acontecendo, mas permanecem as mesmas - raivosas, tristes, infantis, estúpidas. Nada mudou.

Se você realmente vir a luz que está lá esperando por você, para ser vista através do terceiro olho, você será uma pessoa diferente. E, então, você não precisará contar a ninguém. As pessoas saberão que você se tornou uma pessoa diferente. Você não pode nem escondê-lo; isso será sentido. Aonde quer que você vá, os outros sentirão que “alguma coisa aconteceu a esse homem”.

Assim, não imagine; espere, e deixe as coisas tomarem seu próprio curso. Você faz a técnica e, então, espera. Não salte à frente.



Osho, em "O Livro dos Segredos"



Fonte: http://www.palavrasdeosho.com
Fonte da Gravura: www.imageafter.com

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