terça-feira, 9 de julho de 2013

NOÉ - DILÚVIO - ARCA (UMA VIVÊNCIA INTERIOR)


Um aspecto pouco lembrado quando estudamos a Torá (Pentateuco) é que o povo judeu foi subjugado mais de uma vez por outras nações (Assíria, Babilônia, Egito etc.). É compreensível, portanto, que no cativeiro o povo judeu teve contato com o folclore e tradições desses outros povos e, num processo muito natural, acabou incorporando elementos estrangeiros ao seu.

A Gênese, por exemplo, é visivelmente uma interpretação ou visão da Saga de Gilgamesh (Babilônia). Sabemos que grandes enchentes e catástrofes ocorreram (como sempre ocorrem) em vários pontos do planeta. Praticamente todas as culturas antigas falam de uma grande cheia e, a partir desse fato, surgiram muitas histórias, narrações e mitos simbólicos.

Tendo em vista a degradação moral, mental e espiritual dos povos daquela época por um lado, e a ocorrência de uma grande enchente (ou várias enchentes) por outro lado, a associação tomou um sentido moral e teológico. Assim, em todas as tradições e mitos o homem era purificado de sua degeneração, colhendo dos males que ele mesmo plantou, pela ação dos elementos, no caso em questão, a água. Esta assume uma qualidade de purificadora e restauradora.

Mas o mais importante em todas as narrativas e mitos simbólicos é que acabam por esclarecer, mostrar e exemplificar os diversos aspectos da caminhada evolutiva humana. A lenda ou narrativa do "dilúvio", nos mostra, claramente, dentre inúmeras interpretações e ensinamentos válidos, duas lições: a primeira delas é que a natureza (o Criador) sempre preserva a criação, ou o melhor da criação, sob todas as circunstâncias. A segunda lição que podemos tomar é que quando momentos caóticos ("diluvianos") acontecem na vida humana, precisamos nos "salvar" construindo uma "arca", ou seja, um espaço interior para análise, reflexão e novos rumos na vida. O mesmo acontece com a humanidade como um todo.

Portanto, os relatos das Sagradas Escrituras, de todos os povos, nunca devem ser tomados literalmente, pois geralmente são atemporais e muito pouco se referem a fatos históricos reais. O valor está nas entrelinhas, na interpretação correta dos códigos simbólicos sempre a nos indicar e sugerir um esclarecimento atual, pessoal ou coletivo.




Prof. Hermes Edgar Machado Junior (Issarrar Ben Kanaan)




Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

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