A Arte de Enxergar Lições em Toda Parte
“Tu podes criar neste ‘dia’ as tuas
possibilidades para o teu ‘amanhã’. Na
‘Grande Jornada’, as causas plantadas
a cada hora produzem, cada uma, a sua
colheita de efeitos; porque uma rígida
Justiça rege o Mundo. Com o impulso
poderoso de uma ação que jamais erra, ela
traz vidas de felicidade ou de sofrimento
para os mortais, resultados cármicos de todos
os nossos pensamentos e ações anteriores.”
Helena P. Blavatsky [1]
Bem-aventurança infinita e harmonia total: essa é a substância essencial da vida. A lei eterna do equilíbrio e da verdade nos rodeia por todos os lados. Caminhamos sobre ela. Ela é a meta dos nossos esforços. Ela também habita nosso coração e o ar que respiramos.
Mas somos como peixes que navegam por um oceano infinito e não têm consciência disso. Estamos rodeados de infinitas possibilidades em todos os aspectos, e temos a impressão de que é difícil localizá-las e aproveitá-las para expandir o contato com nossa natureza original.
Em consequência disso, a tarefa de identificar as sementes do bem e fazê-las germinar é um dos grandes testes colocados diante do ser humano.
Três dos principais axiomas da filosofia esotérica podem ser colocados em palavras bastante simples, e deles os dois primeiros estavam inscritos na entrada do oráculo de Delfos, na Grécia antiga:
* “Nada em excesso”;
* “Conhece-te a ti mesmo”; e
* “Percebe tua oportunidade”.
Há uma estreita relação entre esses conselhos. É preciso, em primeiro lugar, viver com uma calma moderação interior para, em segundo lugar, conhecer a si mesmo.[2] Essas duas condições permitem ao aprendiz identificar, em terceiro lugar, as oportunidades no caminho da sabedoria.
O ser humano é contraditório. Sua vida é território de uma constante luta entre acertos e erros. Desperdiçamos grande parte do nosso potencial de felicidade, criamos problemas para nós mesmos e para os outros, e temos de fazer um esforço para aceitar a verdade quando ela contraria nossas opiniões ou ameaça nossa comodidade ou nossas rotinas preferidas.
Viver é perigoso. Há oportunidades para fazer o bem e há oportunidades negativas ou ilusórias. O desejo, assim como a vontade, tende a produzir as oportunidades que levam à sua materialização.
Quando o estudante de filosofia pratica uma auto-observação honesta e a faz à luz do ideal do autoaperfeiçoamento humano, ele enxerga as oportunidades ilimitadas de fazer o bem, trilhar o caminho da sabedoria e alcançar a libertação através do altruísmo.
Na medida em que isso ocorre damos passos positivos, temos gestos nobres e elevados, construímos situações saudáveis e aprendemos a amar com altruísmo. Quanto mais o tempo passa, mais aprendemos a aprender. No século 19, um raja-iogue dos Himalaias escreveu o seguinte à sua discípula Laura Holloway, sobre a arte de aproveitar oportunidades positivas:
“Trate, filha, de aprender uma lição através de quem quer que seja que ela possa estar sendo dada. ‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões.’ Não seja demasiado ansiosa por ‘instruções’. Você sempre obterá o que necessita se o merecer, mas não mais do que merece ou estiver apta a assimilar...” [3]
Porém, para aproveitar as possibilidades que a vida coloca diante de nós, são necessárias pelo menos três coisas:
A) Saber o que queremos;
B) Ter olhos para ver as lições ocultas sob as aparências externas;
C) Possuir uma serena autoconfiança.
Émile Coué, que formulou o método da autossugestão consciente, afirmou o seguinte, na primeira parte do século 20:
“Aquele que parte na vida com a firme intenção de alcançar um objetivo fatalmente o conseguirá, porque tudo fará para alcançá-lo. Se uma só oportunidade se lhe apresenta, por duvidosa que seja, mesmo assim não a deixa passar. Ademais, inconscientemente ou não, dá lugar a que sucedam acontecimentos que lhe são propícios. Aquele que, ao contrário, duvida de si mesmo, jamais alcançará coisa alguma. Pode ter carradas de oportunidades bem favoráveis, mas não as enxergará, não poderá segurar uma só, por mais simples que seja o esforço para alcançá-la.” [4]
Os cidadãos menos atentos chamam de “bom” o que é agradável, e de “ruim” o que não é agradável. Esta visão das coisas é superficial e a médio prazo produz mais sofrimento. O pensador Robert Crosbie, fundador da Loja Unida de Teosofistas, escreveu:
“... Digamos que nada é bom e nada é mau, mas tudo é oportunidade - a melhor oportunidade possível, porque a alma sabe o que ela necessita para aumentar seus poderes e manter sua energia.”
E Crosbie acrescentou:
“Nós às vezes não reconhecemos nossas oportunidades, porque elas surgem a cada momento do tempo. Cada acontecimento é uma oportunidade - até mesmo a passagem das pessoas na rua e os pensamentos e sentimentos que elas despertam em nós. Seja o que for que nós sentirmos em relação aos outros, sejam quais forem nossas relações com eles, nosso contato com eles, nossas relações familiares, nossas relações sociais, profissionais, e nacionais - todas essas são oportunidades que podem ser aproveitadas de várias maneiras; cada uma delas constitui Carma. Nosso contato com a Sabedoria Divina (Teosofia) constitui uma oportunidade cármica.” [5]
O contato sincero com a filosofia esotérica autêntica significa uma oportunidade de ouro. Aproveitá-la, porém, é algo que requer paciência e uma visão de longo prazo da vida.
Uma certa humildade será necessária para aceitar o fato de que a capacidade de identificar, assimilar e vivenciar lições só cresce pouco a pouco ao longo dos anos. Por outro lado, cada passo dado na direção correta é perfeitamente válido e completo em si mesmo, e muda para melhor algum aspecto do nosso presente e do nosso futuro. A meta é longínqua e todo progresso sincero na direção dela deve ser celebrado.
NOTAS:
[1] “A Voz do Silêncio”, Helena P. Blavatsky, edição online de www.FilosofiaEsoterica.com, Fragmento II, página 21.
[2] Veja o item Sete Sábios, em “Dicionário Oxford de Literatura Clássica Grega e Latina”, Paul Harvey, Jorge Zahar Editor, RJ.
[3] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, compiladas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, Seção de Cartas Para e Sobre Laura Holloway, ver Carta II, p. 147. Neste trecho, o mestre chama atenção para o fato de que a relação entre instrutor e discípulo ocorre sempre fundamentalmente além do verbal e do visual. O discípulo deve ter os olhos bem abertos para distinguir o ensinamento e a inspiração em qualquer aspecto da vida.
[4] “O Domínio de Si Mesmo Pela Auto-Sugestão Consciente”, Émile Coué, Ed. Martin Claret, SP, 2002, ver p. 83.
[5] Citado na revista “The Theosophical Movement”, Theosophy Company, Mumbai, Índia, Fevereiro 2005, p. 144.
Carlos Cardoso Aveline
Fonte do Texto e da Gravura:
http://www.helenablavatsky.net/2012/11/as-oportunidades-diante-de-nos.html
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