O mediúnico é subjetivo por natureza, pois ocorre pelo inconsciente humano. Não pertence à consciência muito embora deva tornar-se consciente para o crescimento humano. Sua objetividade deverá ser colocada a serviço do ser humano em sua busca pela felicidade.
Por mais que sejamos preconceituosos para com a mediunidade, considerando-a produto religioso ou fruto de crendice popular, ela interfere intensamente no estado psíquico e emocional do ser humano.
Não é ela uma faculdade extra-humana nem tampouco adquirida exclusivamente no exercício de práticas transcendentes e místicas, pois sua aquisição é fruto do desenvolvimento da consciência nos milênios de evolução da espécie. Ela se estruturou no ser humano a partir de seu contato com a morte como fenômeno não controlável e catalisador de acesso ao inconsciente, tanto para aquele que desencarna como também para os seus, que ficaram.
A mediunidade é uma aquisição evolutiva do espírito em face de seu refinamento, possibilitando-o perceber uma dimensão energética acima da vibração típica do corpo físico. Ela permite uma comunicação entre seres através do perispírito em frequências que superam aquela que ocorre com os sentidos físicos e por meio dos centros cerebrais. Sua percepção pelo ser humano foi possível graças à evolução de seu aparelho cerebral, pois quando este se mostrou maduro e com o córtex desenvolvido, a faculdade tornou-se perceptível.
Seu alcance é maior do que aquele que usualmente se observa na prática da desobsessão. Como se trata de algo adquirido pela evolução do espírito em benefício de seu próprio progresso e felicidade, sua utilidade transcende o auxílio espiritual a desencarnados.
Como tudo o que é adquirido pelo espírito em evolução, sua estruturação se localiza no perispírito, instrumento com o qual o Espírito se comunica com o mundo. As faculdades humanas foram adquiridas e desenvolvidas no contato do Espírito com a matéria, cujo produto resultante, de um lado, foi a constituição do perispírito, e, do outro, a absorção pelo primeiro do conhecimento das leis de Deus.
Os estudos de Allan Kardec, principalmente aqueles constantes em O Livro dos Médiuns, proporcionaram um olhar mais objetivo e crítico sobre a mediunidade, tornando-a perceptível aos meios intelectuais. Isso, por si só, não a tornou popular ou esgotou seu estudo e sua compreensão. Estudos mais aprofundados, bem como sua constante utilização, a tornarão um importante meio de comunicação do ser humano.
A mediunidade é faculdade humana e deve ser utilizada para a felicidade do ser encarnado ou do desencarnado. Seu não uso promove atrofia e limitações evolutivas. Quando digo uso, não me refiro àquele decorrente da prática espírita, de utilidade óbvia, mas à ampla aplicação na Vida em geral, principalmente nas ricas relações humanas.
Sua não utilização pode ser comparada à atrofia decorrente do não uso das asas, que fez surgir espécies de aves de vôo baixo e limitado, como os pavões, incomparavelmente belos, mas cujos apêndices lhes servem mais como enfeites.
As práticas místicas e ritualísticas de povos primitivos, nas quais o fenômeno mediúnico era referenciado, revelam a força psíquica da mediunidade que atravessa os séculos com a mesma psicologia e mediunidade atratividade. Os metapsiquistas e parapsicólogos do passado se ocuparam, e se ocupam, em demonstrar a veracidade do fenômeno mediúnico enquanto que os espíritas de hoje lhe mostram o alcance, a serviço do bem estar dos médiuns e na prática da caridade aos desencarnados. Ir além disso, que é necessário, é disseminar o uso da mediunidade na vida prática do ser humano e torná-la instrumento de degradação dos valores morais já conquistados.
O ser humano jamais poderá viver sem esta excelente faculdade, inerente à sua atual condição: estar conectado à matéria pelo perispírito. Sua utilização representa um degrau acima na evolução espiritual e é fundamental para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. Sem seu uso não se avançará muito na evolução; por outro lado, o uso que fará dessa faculdade permitirá que avance na escala evolutiva, desatrelando-se de forma transcendente da matéria bruta, da mesma forma que outrora o réptil alçou vôo na condição de ave portadora de asas para gozar de sua natural liberdade.
As polaridades da evolução (material e intelectual) são extremos que revelam, entre si, um espectro muito largo de possibilidades evolutivas. Entre elas (as polaridades) existem processos a se desenvolverem para que se alcancem níveis evolutivos superiores. Um deles é o desenvolvimento e uso da mediunidade. O exercício da mediunidade não é um ato que pertence ao espírito desencarnado. A mediunidade pertence ao médium que, embora não seja autor do fenômeno que porventura se produza, pode, às vezes, sob certas condições, provocá-lo. A educação da faculdade é responsabilidade do médium que deve colocá-la a serviço de situações que transcendem a da ajuda a desencarnados necessitados de esclarecimentos. A mediunidade é mais do que uma faculdade para a desobsessão de espíritos. É uma janela do Espírito para as dimensões existenciais do universo.
A consciência, por parte do médium, de que é portador da faculdade mediúnica contribui para seu desenvolvimento em face da permanente ligação que ela favorece com o espiritual. É essa consciência que o fará educá-la a serviço de sua realização pessoal.
Por enquanto usamos a mediunidade como instrumento para obtenção de algum favor proveniente das forças espirituais. Ainda a usamos numa relação de troca. Queremos com ela obter alguma vantagem sobre algo com o qual não sabemos lidar objetivamente.
Muitas vezes estabelecemos uma relação com os espíritos como o fazemos com Deus. Atribuímos a eles um certo poder divinatório de tudo fazer em nosso favor. Nem sempre o conseguem. Bom quando o fazem. Porém, independente do resultado do pedido, isso demonstra que os colocamos num certo lugar de detentores do poder e a nós de eternos pedintes. Eles são pessoas. Nada mais do que isso. A cultura mítica de reverenciar os espíritos favorece uma relação subserviente e desigual, depreciando a mediunidade.
Se de um lado malbaratamos a mediunidade, estimulando seu uso exclusivamente na esfera institucional, do outro, em face de ser a mente humana por demais complexa, a psicologia vem negando com veemência a possibilidade das comunicações mediúnicas. Porém, quanto mais o conhecimento avança, mais se desprende o véu da ignorância quanto aos intrincados processos psíquicos. É no estudo do inconsciente e das capacidades intelectivas humanas que se descobrirá a existência do perispírito, sede dos processos psicológicos e mediúnicos do ser humano. Isolar o mediúnico do anímico-psicológico, por enquanto, é como querer separar a água do vinho. Eles estão intimamente ligados numa feliz interdependência.
A mediunidade é uma faculdade tão subjetiva que não nos damos conta da gama de fenômenos que só ocorrem por conta de sua existência. Por exemplo, as ligações amorosas entre os espíritos encarnados e desencarnados, também ocorrem pelas vias da mediunidade sem que, na maioria dos casos, eles se dêem conta. Da mesma forma, as transmissões de saber e de sentimentos ocorrem pela faculdade mediúnica que as criaturas possuem.
Será sempre um desafio ao ser humano transcender sua materialidade. Por muito tempo buscará em seu corpo e de acordo com paradigmas enraizados nas estruturas cerebrais explicações para o psiquismo humano. A linha divisória entre o que é material e o que é espiritual inexiste. Mesmo aqueles que se encontram desligados do corpo físico têm dificulddade em estabelecer a diferença entre uma dimensão e outra.
Adenáuer Novaes
Fonte: do livro "Psicologia e Mediunidade"
Fundação Lar Harmonia, 1ª ed., 2002
www.larharmonia.org.br
Fonte da Gravura: Tumblr.com
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