quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A LENDA MAÇÔNICA


Um verdadeiro movimento místico tem sua lenda, que narra em linguagem simbólica sua condição na ordem cósmica e o ideal que procura realizar.

Do Velho Testamento, que contém ensinamentos do Mistério Atlante, aprendemos que a humanidade foi criada macho-fêmea, bissexual, e que cada um era capaz de propagar sua espécie sem a cooperação de outro, como hoje é o caso de algumas plantas. Mais tarde, Jeová removeu um pólo da força criadora de Adão, a humanidade primitiva, e daí resultaram dois sexos. O ensinamento esotérico complementa essa informação declarando que a finalidade dessa mudança foi utilizar um pólo da força criadora para a construção de um cérebro e de uma laringe, por meio dos quais a humanidade pudesse adquirir conhecimento e expressar-se em palavras. A conexão íntima entre o cérebro, laringe e genitais é evidente a qualquer um, após um ligeiro exame dos fatos. A mudança de voz do menino na puberdade, a deficiência mental resultante da indulgência com a natureza passional, a fala inarticulada do deficiente mental e muitos outros fatos que poderiam ser citados, provam esta afirmação.

Segundo a Bíblia, nossos primeiros pais foram proibidos de comer da Árvore do conhecimento, mas Eva, seduzida pela serpente, comeu, induzindo depois o homem a seguir seu exemplo. Quem são as serpentes e o que é a Arvore do Conhecimento, pode ser entendido em certas passagens na Bíblia. Foi-nos dito, por exemplo, que Cristo exortou Seus discípulos a serem "sábios como serpentes e inofensivos como pombas". A chamada maldição, proferida sobre Eva após sua confissão, declara que ela deve dar à luz com aflição e dor, e que a raça morrerá. Foi sempre um grande obstáculo para os comentaristas da Bíblia descobrir a ligação que poderia existir entre o comer uma maçã, a morte e o parto doloroso; mas, quando temos conhecimento das castas expressões da Bíblia, que designam o ato criador por passagens tais como "Adão conheceu Eva, e ela concebeu Caim"; "Adão conheceu Eva, e ela concebeu Abel", "Como posso dar à luz uma criança, se não conheço um homem?" etc., fica muito claro que a Árvore do conhecimento é uma expressão simbólica para o ato criador. Assim, fica evidente que as serpentes ensinaram Eva como efetuar o ato criador e que Eva instruiu Adão. Portanto, Cristo designou as serpentes como nocivas, embora admitindo sua sabedoria. Para compreender a identidade das serpentes é necessário recorrer ao ensinamento esotérico, que as aponta como espíritos do marcial Lúcifer, regentes do signo serpentino de Scorpius. Seus Iniciados, mesmo tão atrasados como a Dinastia Egípcia, ostentavam na fronte o Uraeus ou símbolo da serpente, como um sinal da fonte de sua sabedoria.

Em consequência do uso desautorizado da força criadora, a humanidade deixou de ser etérea e cristalizou-se em um revestimento de pele ou corpo físico, que agora oculta dela os deuses que habitam os reinos invisíveis; e grande foi sua tristeza por esta perda.

Geração foi originariamente estabelecida pelos Anjos, sob Jeová. Era efetuada nos grandes templos debaixo de favoráveis condições planetárias e o parto era indolor, como ainda o é hoje entre os animais selvagens, que não abusam da função criadora para gratificar os sentidos.

Degeneração resultou do abuso ignorante e desautorizado do ato gerador, iniciado pelos Espíritos de Lúcifer.

Regeneração deve ser empreendida com a finalidade de restituir ao homem a sua perdida condição de ser espiritual, e libertá-lo deste corpo de morte aonde está agora aprisionado. A Morte deve ser absorvida na Imortalidade.

Para alcançar este objetivo, um acordo foi feito com a humanidade, quando ela foi expulsa do jardim de Deus para vagar no deserto do mundo. De acordo com aquele plano, construiu-se um Tabernáculo consoante um modelo planejado por Deus, Jeová, e uma arca, simbolizando o espírito humano, foi nele colocada. Suas hastes nunca eram tiradas de seu lugar, para mostrar que o homem é um peregrino sobre a terra, e que nunca poderá descansar até que alcance sua meta. Havia dentro dela um vaso dourado com "maná" (man - homem) "caído do céu", juntamente com a tábua das leis divinas que o homem precisa aprender em sua peregrinação pelo deserto da matéria. Esta arca simbólica continha também um bastão mágico, um emblema do poder espiritual, chamado vara de Arão, o qual acha-se agora latente em todos, no caminho que leva para o céu do repouso - o templo místico de Salomão. O Velho Testamento conta também como a humanidade foi milagrosamente guiada e sustentada, como depois da luta com o mundo foi-lhe dada a paz e a prosperidade pelo Rei Salomão. Em suma, sem rebuscamentos, a história relata os fatos mais salientes da descida do homem do céu, suas principais transformações, sua transgressão às leis do Deus Jeová, como foi guiado no passado e como Jeová deseja guiá-lo no futuro até alcançar o Reino do Céu - a terra da paz - para seguir de novo, docilmente, a orientação do Regente Divino.

A lenda Maçônica tem pontos de desacordo, como também de acordo, com a história da Bíblia. Relata que Jeová criou Eva, que o Espírito Lucífero Samael uniu-se a ela, mas que foi expulso por Jeová e forçado a deixá-la antes do nascimento do seu filho Caim, que ficou sendo assim o filho de uma viúva. Então, Jeová criou Adão, para ser marido de Eva, e dessa união nasceu Abel. Por conseguinte, desde o princípio, tem havido dois tipos de pessoas no mundo. Um, gerado pelo espírito de Lúcifer, Samael e possuidor de uma natureza semi-divina, imbuído com a dinâmica energia marcial herdada de seu divino antecessor, é agressivo, progressista e possuidor de grande iniciativa, mas impaciente à repressão ou autoridade, tanto humana como divina. Esta classe é relutante em aceitar idéias pela fé e inclina-se a provar tudo à luz da razão. Estas pessoas acreditam nas obras mais do que na fé, e, pela sua coragem e energia infatigáveis, transformaram a aridez dos desertos do mundo num jardim cheio de vida e beleza, realmente tão encantador que os Filhos de Caim esqueceram o Jardim de Deus, o Reino do Céu, de onde foram expulsos pelo decreto do Deus lunar, Jeová. Rebelaram-se constantemente contra Ele, porque Ele os prendeu pelo "cordão" umbilical. Perderam sua visão espiritual e estão aprisionados no corpo, na fronte, onde se diz que Caim foi marcado. Eles precisam vagar como filhos pródigos na relativa escuridão do mundo material, esquecidos do seu alto e nobre estado até encontrarem a porta do templo, e aí pedirem e receberem Luz. Então, como "Phree Messen" ou filhos de luz, serão instruídos de como construir um novo templo sem ruído de martelo, e, quando tiverem aprendido isto, poderão "viajar por países estrangeiros" para aprenderem mais do ofício. Em outras palavras, quando o espírito percebe que está longe de seu lar celestial, um filho pródigo, alimentando-se das insatisfatórias migalhas do mundo material quando separado do Pai está "pobre, nu e cego"; quando bate à porta de um templo místico como o dos Rosacruzes e pede luz; quando recebe a desejada instrução, depois de ter merecidamente construído um corpo-alma etérico, um templo ou casa eterna nos céus, não feita com mãos e sem ruído de martelo; quando sua nudez é vestida por aquela casa (ver Cor. 5:1), então, o neófito recebe a "palavra", o "abre-te sésamo" dos mundos internos e aprende a viajar em lugares estrangeiros nos mundos invisíveis. Aí, realiza vôos da alma em regiões celestiais e qualifica-se para graus mais elevados, sob a instrução direta de O Grande Arquiteto do Universo, que criou o Céu e a Terra.

Tal é o temperamento dos filhos da viúva, herdado do seu divino progenitor Samael, e dado por ele ao seu antepassado Caim. Sua história é uma luta contra condições adversas, seu progresso é a vitória sobre todas as forças contrárias, e isto deve-se à sua indômita coragem e ao seu esforço persistente, nunca desanimando por uma derrota temporária.

Por outro lado, enquanto Caim, regido pela ambição divina, labutava e cultivava o solo para fazer crescer duas folhas de grama onde só crescia uma, Abel, o descendente humano de pais humanos, não desejava nada, nem se inquietava. Sendo ele próprio uma criatura de Jeová, por meio de Adão e Eva, ele estava satisfeito em conduzir os rebanhos também criados por Deus, e aceitar o seu modo de vida, cônscio de sua descendência divina, gerada sem esforço ou iniciativa própria. Essa atitude dócil era o que mais agradava o Deus Jeová, que era extremamente ciumento de Sua prerrogativa como Criador. Portanto, Ele aceitou cordialmente as oferendas de Abel obtidas sem esforço ou iniciativa, mas desprezou as oferendas de Caim, porque derivavam do seu próprio instinto criativo divino, análogo ao de Jeová. Então, Caim matou Abel, mas não exterminou outras criaturas de Jeová, porque, como foi-nos dito, Adão conheceu Eva novamente e ela deu à luz Seth. Seth tinha as mesmas características de Abel, e transmitiu-as aos seus descendentes, que até hoje continuam a confiar inteiramente no Senhor e vivem pela fé e não pelo trabalho. Por árdua e enérgica diligencia nos trabalhos do mundo, os Filhos de Caim adquiriram a sabedoria mundana e o poder temporal. Foram capitães de indústria e mestres na arte da política, enquanto os Filhos de Seth, tomando o Senhor por guia, tornaram-se canais para a sabedoria divina e espiritual. Eles constituem o sacerdócio. A animosidade entre Caim e Abel perpetuou-se de geração a geração entre seus respectivos descendentes. Nem podia ser de outro modo, porque uma classe, como governantes temporais, aspira elevar o bem-estar físico da humanidade através da conquista do mundo material, enquanto o Sacerdócio, no seu papel de guia espiritual, estimula seus seguidores a abandonar o mundo perverso, o vale de lágrimas, e a buscar consolo em Deus. Uma escola visa formar mestres trabalhadores, peritos no uso de ferramentas com as quais possam tirar seu sustento da terra, que foi amaldiçoada por seu adversário divino, Jeová. A outra produz mestres mágicos, hábeis no uso da palavra para fazer invocações e, dessa forma, ganham aqui o apoio daqueles que trabalham e rezam para que eles alcancem o céu.

Quanto ao futuro reservado para os Filhos de Caim e seus seguidores, a lenda do templo é também muito eloquente. Relata que de Caim descenderam Matusalém, que inventou a escrita, Tubal Caim, artífice hábil em metais, e Jubal, que originou a música. Em resumo, os Filhos de Caim foram os que originaram as artes e ofícios. Assim, quando Jeová escolheu Salomão, descendente da raça de Seth, para construir uma casa com seu nome, a espiritualidade sublime de uma longa linha de ancestrais, divinamente guiados, floresceu na concepção do magnífico templo, chamado Templo de Salomão, embora Salomão fosse apenas o instrumento de realização do plano divino revelado a Davi por Jeová. Mas, Salomão era incapaz de executar o projeto divino em forma concreta. Por isso, precisou apelar para o Rei Hiram de Tyro, descendente de Caim, que escolheu Hiram Abiff, o filho de uma viúva (como eram chamados todos os Franco-Maçons, em virtude da relação do seu divino progenitor com Eva). Hiram Abiff tornou-se, então, o Grande Mestre de todos que trabalhavam na construção. Nele floresciam as artes e ofícios de todos os Filhos de Caim que o precederam. Era mais habilidoso que qualquer outro no trabalho do mundo, sem o que o plano de Jeová teria permanecido para sempre um sonho divino, e nunca poderia ter-se tornado uma realidade concreta. A argúcia mundana dos Filhos de Caim era tão necessária ao acabamento desse templo, como o era a concepção espiritual dos Filhos de Seth e, portanto, durante o período de construção, as duas classes uniram forças, ocultando a inimizade latente sob uma superficial demonstração de amizade. Essa foi de fato a primeira tentativa de uni-los, e, se isso tivesse sido conseguido, a história do mundo teria sido provavelmente alterada em uma maneira substancial.

Os Filhos de Caim, descendentes dos espíritos ígneos de Lúcifer, eram naturalmente peritos no uso do fogo. Por isso, os metais acumulados por Salomão e seus ancestrais foram fundidos em altares, lavabos e vasos de vários tipos. Sob a direção de Hiram Abiff, os operários ergueram pilares e arcos que se apoiavam neles. O grande edifício estava perto de ser acabado quando ele determinou moldar o "Mar Fundido", que seria o coroamento de seu esforço, sua obra-prima. Foi na construção deste grande trabalho que se manifestou a traição dos Filhos de Seth, frustrando assim o plano divino de reconciliação. Eles tentaram apagar o fogo que era usado por Hiram Abiff, com sua arma natural, água, e quase o conseguiram.


Max Heindel

Fraternidade Rosacruz


Fonte: do livro "Maçonaria e Catolicismo", cap. 2
Fonte da Gravura: http://www.solbrilhando.com.br/Sociedade/Maconaria/Arquivos/a_maconaria.jpg

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