Temos visto por aí afora companheiros espíritas, ora por vaidade, ora por ignorância, ora por extrema boa-vontade diagnosticando tudo como sendo obsessão ou ataque espiritual, levando, muitas vezes, as pessoas necessitadas de médico ou mesmo de um psiquiatra a tratamento interminável de desobsessão.
Criou-se no espiritismo o princípio de que tudo é obsessão, fugindo ao entendimento proposto por Kardec de que devemos andar de mãos dadas com a ciência. Ora, se a proposta é essa, por que fugir das investigações psicológicas e/ou psiquiátricas diante de alguns quadros de distúrbios emocio-mentais?
Mais uma vez, aparecem os “diagnosticadores de plantão”, querendo “ajudar” ou impressionar com as suas “percepções” mirabolantes. Vão identificando quadros de obsessão, como justificativa para tudo. Lembro-me, aqui, de uma grande amiga que surgiu com um problema na pele, umas erupções, e um desses médiuns afirmou se tratar de um ataque espiritual. Era lupus eritematoso, motivo inclusive que a levou à desencarnação, anos mais tarde.
Sei, sei: “...os espíritos interferem em nossas vidas muito mais do que possamos imaginar, em verdade eles nos conduzem.” Todavia, uma afirmativa não exclui a outra. Em eles interferirem em nossas vidas não nos tiram a certeza de que nós próprios criamos os problemas de nossas vidas. Além do mais, os espíritos só superdimensionam o que oferecemos a eles, de positivo ou negativo.
As reações neuróticas, por exemplo, podem ser precipitadas por diversos tipos de situação de tensão. De modo geral, as tensões básicas se centralizam em impossibilidades de atender à aspiração irrealista, com sentimentos de autodesvalorização e inferioridade; desejos inaceitáveis e pontos fracos, decorrentes de falsas verdades assimiladas; escolhas ou decisões aparentemente impossíveis; cognições dissonantes com relação à estrutura do eu; situação frustradora de vida, que tira a esperança e o sentimento de paz das pessoas.
Então, é certo que quase sempre o neurótico terá o seu padrão resultante, fundamentalmente, da constituição de sua personalidade e não pela situação de tensão, embora existam algumas provas de que as reações de fraqueza tendem a aparecer como defesa contra situações de vida frustradoras e, aparentemente, sem esperança.
Deve-se acentuar, no entanto, que muitos lidam com situações de tensão, que podem ser provas, mas que são enfrentadas pela maioria dos indivíduos, sem que estes se valham de defesas neuróticas.
As reações dissociativas, no entanto, tendem a surgir como defesas contra ameaças internas; aqui já seria estudo no campo das psicoses.
É preciso, portanto, que nunca isolemos o trato do ser humano apenas em um componente espiritual, pois somos um complexo de ações e reações interagindo por motivos de nossas fragilidades psicológicas e espirituais, é claro. Será sempre de boa saúde buscamos a integração dos processos de ajustamento, humano e espiritual.
E cuidado: não entregue a sua cabeça, o seu emocional a oportunistas de plantão, aproveitadores do sofrimento alheio, que posam de psicoterapeutas e, sem qualquer preparo, se lançam irresponsavelmente a tratamentos exóticos, algumas vezes regressivos, sem qualquer preparo ou estudo. São, literalmente, vigaristas que merecem ser processados por sua incúria e irresponsabilidades.
José Medrado
Fonte: http://www.cidadedaluz.com.br/
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal
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