sexta-feira, 11 de julho de 2014

VÉU SOBRE O PASSADO

É sem razão que se aponta o fato de o Espírito não se lembrar das suas vidas anteriores como um obstáculo para que ele possa tirar proveito das experiências que nelas viveu. Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso deve ser útil.

De fato, essa lembrança provocaria inconvenientes muito graves; poderia, em alguns casos, nos humilhar muito, ou ainda excitar nosso orgulho e, por isso mesmo, dificultar nosso livre-arbítrio. Em outros casos ocasionaria inevitável perturbação às relações sociais.

Muitas vezes, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu e se encontra relacionado com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse outra vez, e sempre se sentiria humilhado diante daqueles que tivesse ofendido. Para o nosso aperfeiçoamento, Deus nos dá precisamente o que necessitamos e nos é suficiente: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, e nos tira o que poderia prejudicar-nos. O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu; nasce como se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal.

Suas más tendências atuais indicam-lhe o que deve corrigir em si mesmo e é nisso que deve concentrar toda a sua atenção, já que o que for completamente corrigido nenhum traço deixará.

A voz da consciência o adverte do bem e do mal e para que tome boas resoluções, e lhe dá as forças para resistir às más tentações. Além disso, esse esquecimento acontece apenas durante a vida corpórea. Ao voltar à vida espiritual, o Espírito readquire a lembrança do passado: trata-se apenas de uma interrupção temporária, tal como acontece na vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no dia seguinte, o que fizemos na véspera e nos dias anteriores.

Mas não é apenas depois da morte que o Espírito recobra a lembrança de seu passado. Pode-se dizer que ele nunca a perde, pois a experiência prova que quando encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de uma certa liberdade e tem consciência de seus atos anteriores. Ele sabe por que sofre, e da justiça desse sofrimento. Assim, ele pode adquirir novas forças nestes instantes do sono do corpo, da emancipação da alma, desde que saiba aproveitar esses momentos dos quais guardará uma leve lembrança, que se apagará durante o dia, para não lhe causar sofrimento e não prejudicar suas relações sociais.





Allan Kardec





Fonte: do livro "O Evangelho segundo o Espiritismo"
Fonte da Gravura: Acervo de autoria pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário