terça-feira, 28 de julho de 2020

O AMOR NO CENTRO DE NOSSO SER


Uma das condições humanas mais comuns e, talvez, a principal causa de sofrimento é o sentimento de não ser amado. Várias são as razões pelas quais podemos vir a sentir que não somos amados, ou não somos valorizados pelo que somos: porque nosso amor pelos outros não é correspondido, porque essencialmente não nos sentimos dignos de amor, porque nos sentimos não merecedores, ou inadequados emocionalmente. Seja porque nos mantenhamos inconscientes de nosso verdadeiro valor, ou porque amemos sem uma resposta complementar, o sentimento de não sermos amados nos causa o mais profundo sofrimento. Torna necessário que vivamos cada dia enfrentando um arraigado e crescente sentimento de não-ser.

Por não nos sentirmos amados tememos a não-entidade. O aprendizado de viver em mais do que apenas um nível de enfrentamento e de sobrevivência, envolve a descoberta de como podemos reagir a esse sentimento de ânsia-de-amor e de reagirmos não por evasão, auto-distração ou entorpecimento, mas por verdadeiramente o encararmos e lidarmos com ele...

O Evangelho nos diz para reagir com fidelidade... assim como nos diz o ensinamento da meditação: “mantenha a repetição do mantra”. Caso você se mantenha fiel, em meio a essa dor, ...então você crescerá para além desse sentimento e a dor da perda ou da ausência se transformará na dor do crescimento... Mas, como crescemos? Como é que continuamos a nos voltar para o lado certo?...

Com fidelidade ao processo de conversão iniciado pelo mantra, começamos a compreender um dos grandes mistérios da meditação que também é seu verdadeiro teste. É o de que, por meditar fielmente, nos tornamos pessoas que amam mais. Trata-se, porém, de uma jornada... Na prece há um esforço continuado na direção de nossa própria fonte, até que o amor que quer alcançar o mundo, alcança sua própria fonte no verdadeiro centro de nosso ser. Ali, descobrimos que nossa verdadeira capacidade e ânsia de amar é uma dádiva de Deus. Por mais que daí em diante nos sintamos inadequados, indignos, ou não-amados, nunca podemos nos desesperar. Pois trata-se de sabermos que o amor que sentimos e ansiamos transmitir é uma qualidade divina; sabemos que tudo o que somos e sentimos é conhecido e está contido pelo amor de Deus...


Dom Laurence Freeman, OSB



Fonte: "O Ciclo do Amor" - Leitura de 07/09/2008
THE SELFLESS SELF (London: Darton, Longman, Todd, 1989) pp. 106-108.
Tradução de Roldano Giuntoli
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - www.wccm.com.br
Fonte da Gravura: https://pixabay.com/pt/photos/natureza-mundo-animal-3106213/

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